A entrega do Prêmio Camões, que aconteceu na manhã desta sexta-feira no Museu Lasar Segall, em São Paulo, foi marcada por discursos inflamados e troca de farpas. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o ministro Roberto Freire afirmou durante a cerimônia que o escritor Raduan Nassar não deveria aceitar o prêmio, no valor de 100.000 euros (330.000 reais, aproximadamente). “É um adversário recebendo um prêmio de um governo que ele considera ilegítimo”, disse Freire.
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Enquanto falava, o ministro foi vaiado e interrompido por gritos de “Fora Temer!” da plateia. Fazendo uma referência ao discurso de Nassar, que havia classificado o impeachment de Dilma Rousseff como golpe, Freire rebateu: “Lamentavelmente, o Brasil assiste hoje a pessoas da nossa geração, que podiam dar testemunhos da sua experiência, que viveram um golpe verdadeiro, dando o inverso de todo esse testemunho”.
O ministro falou por último. Em seu discurso, Nassar elogiou Dilma e criticou o governo Temer, o ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes e a decisão do Supremo Tribunal Federal que permitiu que Moreira Franco virasse ministro. “Em sua decisão, o ministro [Celso de Mello] acrescentou um elogio superlativo a Gilmar Mendes por ter barrado Lula para a Casa Civil. Dois pesos e duas medidas”, disse, segundo a Folha. A fala do escritor terminou com a frase: “O golpe estava consumado. Não há como ficar calado”.
Roberto Freire também mirou em Marilena Chauí, que durante o discurso do ministro gritou “O silêncio é precioso”. Respondendo à filósofa, Freire disse que ela estava dizendo aquilo por ser “de classe média”, lembrando uma ocasião em 2013, quando Marilena disse que odiava a classe média.
No começo da tarde, o Ministério da Cultura divulgou um comunicado oficial sobre a cerimônia, criticando as manifestações durante o discurso de Roberto Freire:
“O Ministério da Cultura (MinC) lamenta, mais uma vez, a prática do Partido dos Trabalhadores em aparelhar órgãos públicos e organizar ataques para tentar desestabilizar o processo democrático. Durante a cerimônia de entrega do Prêmio Camões de Literatura, em São Paulo, o ministro da Cultura, Roberto Freire, teve sua fala interrompida por manifestantes partidários, sinal de desrespeito à premiação oficial dos governos de Brasil e Portugal.
Considerada a mais importante distinção da Língua Portuguesa, o prêmio concedeu 100.000 euros (sendo 50.000 euros arcados pelo MinC) ao escritor brasileiro Raduan Nassar.
O agraciado foi respeitado por todos durante sua fala, ao contrário do que ocorreu com o ministro da Cultura, interrompido de forma agressiva. Apesar de ser um adversário político do governo, Raduan recebeu o prêmio, legitimando sua importância. Uma premiação literária com essa dimensão não merecia esse comportamento intolerante de alguns, que tentaram partidarizar o evento.”