Eva Green: “É algo feminino ter uma amiga-vampiro, que suga você”
Em entrevista exclusiva a VEJA, atriz fala do papel no novo Polanski como a obsessiva Elle, uma ghost writer misteriosa, cheia de altos e baixos
Eva Green costuma gostar de personagens intensas. Não é diferente em Baseado em Fatos Reais, de Roman Polanski, que estreia agora no país. O filme, exibido fora de competição no último Festival de Cannes, é uma adaptação do romance de mesmo nome, escrito por Delphine de Vigan e lançado no Brasil pela Intrínseca.
Green interpreta Elle, uma mulher misteriosa, cheia de altos e baixos e obcecada pela escritora Delphine, vivida por Emmanuelle Seigner, mulher do diretor. A francesa de 37 anos conversou com o site de VEJA durante o Festival de Cannes:
Quando Roman Polanski convida para fazer um filme, o “sim” é imediato? Sim. Ele é como um mito. Um diretor icônico. É uma chance única. Eu disse: “Sim, quero fazer, quero fazer parte desta aventura!”.
Sabia desde o começo o que era o papel? Sim. Eu o encontrei num café em Paris, e ele me contou a história. Para mim, parecia com os filmes Louca Obsessão e Mulher Solteira Procura. Era uma história intensa entre duas mulheres. Era a história perfeita para o Sr. Polanski.
De que mais gostou ao interpretar essa personagem? Essa personagem é a pessoa mais misteriosa que interpretei. Não dá para encaixá-la em nenhuma categoria específica. Não sei na verdade quem ela é, sabe? Foi a estranheza da personagem que me atraiu. Ela não é tranquila, é muito densa.
Acha que ainda é raro encontrar personagens femininas que podem ser más e têm tantas nuances? Sim, exatamente. Ela é tão volátil! Pode ficar com muita raiva ou ter um acesso de fúria e logo depois voltar a ser suave e legal. É assim. Como uma montanha-russa. E é divertido interpretá-la assim, sem saber realmente quem ela é. É uma personagem ambígua.
Polanski disse ter feito o filme para as mulheres. Por que este é um bom filme para mulheres? Este filme para mulheres? Deus, não sei. Quer dizer, é sobre uma relação feminina obsessiva. Fiquei pensando nisso outro dia que é verdade se tratar de algo muito feminino ter uma pessoa dominante na relação. Uma espécie de amiga-vampiro, que suga seu sangue até você achar que é demais e dar tchau. É estranho. É algo bem feminino, não acho que os homens têm esse tipo de relação. Não sei exatamente do que se trata, mas é bem intrigante.
E como você e Emmanuelle Seigner construíram esse relacionamento? Sentiram necessidade de se encontrar antes? Nós tivemos uns dias de ensaio antes da filmagem. Isso ajudou a nos conhecermos. Graças a Deus, ela é uma pessoa muito bacana, porque caso contrário teria sido um pesadelo. Ela é uma mulher muito aberta, muito generosa, então foi bem natural contracenar.
Quando está interpretando uma personagem assim, com um relacionamento difícil, é mais fácil se você gostar da pessoa? Sim… Para um ator… Nunca se sabe. Pode ser alguém que admire sem conhecer e, ao encontrar, ver que é uma pessoa horrível. Ou tenho de interpretar uma relação amorosa, e a pessoa é horrível. E às vezes funciona na tela. É interessante. Aqui eu realmente me dei bem com ela. E isso sempre ajuda imensamente.
E que tipo de diretor é Roman Polanski? Ele dá muitas instruções… Deus, sim! É o diretor mais exigente com quem já trabalhei. É obcecado com detalhes. E ele não suaviza as palavras quando dá orientações. Então às vezes você fica se sentindo: “Ai, meu Deus, por que sou tão ruim?”. Mas não é… Ele fica entusiasmado e é perfeccionista.
Nicole Kidman disse recentemente que vai colocar como regra trabalhar com mais diretoras. Acha que esse tipo de ação é necessária para avançar na igualdade? Com certeza. Mas realmente acho que há cada vez mais diretoras. Não posso revelar ainda, mas vou trabalhar novamente com uma cineasta. E é sempre muito prazeroso, na verdade. Há um pouco menos de… Como digo? Não há jogo de poder, há algo mais igualitário e suave quando uma mulher está dirigindo uma atriz.