A Petrobras, tradicional patrocinadora de projetos culturais no Brasil, deverá reavaliar os gastos com cultura em 2019 a pedido do presidente Jair Bolsonaro. A informação foi confirmada pelo próprio presidente, que publicou um tuíte nesta quinta-feira, 7, afirmando que o incentivo à cultura “não deve estar a cargo de uma petrolífera estatal” e que “o Estado tem maiores prioridades”.
A Petrobras, por sua vez, não especificou como serão as mudanças e informou apenas, por meio de assessoria, que “está revisando sua política de patrocínios e seu planejamento de publicidade, em alinhamento ao novo posicionamento de marca da empresa”. A estatal afirmou, ainda, que o foco dos novos contratos será em “ciência, tecnologia e educação, principalmente infantil” e, quanto aos contratos atualmente em vigor, garantiu que “estão com seus desembolsos em dia”.
Os principais prejudicados pela mudança de direção serão grandes grupos de teatro e cinema e a imprensa tradicional, já que, no novo governo, a verba de publicidade será concentrada nas redes sociais e a de cultura irá para “artistas menores”.
Em 2018, investimentos em cultura e imprensa pela marca somaram quase 160 milhões de reais e, ao todo, a empresa tem contratos ativos que somam 3,5 bilhões de reais. Com a redução, a Petrobras pode vir a romper contratos iniciados em outras gestões, como os da companhia de teatro Galpão, de Minas Gerais, da Companhia de Dança Deborah Colker, do Rio de Janeiro, e do Festival de Cinema do Rio. A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo também recebe, atualmente, patrocínio da estatal.
O corte de verbas pode interromper, ainda, a realização de prêmios literários, como o Prêmio Petrobras Cultural de Criação Literária, que são essenciais para a formação e sobrevivência de novos escritores. “Sem esse apoio eu dificilmente teria escrito os livros Guia de Ruas Sem Saída e Noite Dentro da Noite“, explica o autor Joca Reiners Terron. Outros grupos já vêm sentindo os efeitos da mudança desde o ano passado. O Teatro da Vertigem, de São Paulo, não conseguiu renovar o contrato no final de 2018 e foi informado de que as negociações seriam retomadas após as eleições, o que não aconteceu.
O aumento de gastos com publicidade online, por outro lado, já era esperado. Entre 2008 e 2017, a verba destinada a sites subiu de 2,4 milhões para 33,2 milhões de reais e, no mesmo período, o valor para emissoras de televisão aberta caiu de 133 milhões para 59 milhões de reais.
Em dezembro, Bolsonaro já havia avisado no Twitter que pretendia promover um controle mais rígido das concessões feitas pela Lei Rouanet, cuja função é incentivar a produção cultural, e acusou o programa de provocar “um claro desperdício” de recursos. Em 2018, a Petrobras destinou pouco menos de 10 milhões de reais para o apoio a projetos culturais via Lei Rouanet.
(Com Estado Conteúdo)