A polêmica sobre a presença de dois filmes da Netflix na competição do 70º Festival de Cannes, que começa nesta quarta-feira, chegou ao júri. O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que é o presidente do júri, leu na coletiva de imprensa, horas antes da abertura do evento, uma declaração dizendo defender que as novas plataformas sigam a legislação em vigor. E mais: “Eu pessoalmente não acredito que a Palma de Ouro deveria ser dada a um longa-metragem que não é visto na tela grande. Isso não quer dizer que não esteja aberto ou celebre novas tecnologias e oportunidades, mas enquanto estiver vivo estarei lutando pela capacidade hipnótica da tela grande no espectador”.
Duas produções da Netflix disputam a Palma de Ouro: Okja, de Bong Joon Ho, e The Meyerowitz Stories (New and Selected), de Noah Baumbach. Os filmes estiveram ameaçados de serem retirados da competição depois que os exibidores franceses chiaram porque a Netflix não respeita a janela de três anos entre a estreia nos cinemas e o lançamento em streaming. Mesmo quando chega a lançar filmes na tela grande, o que não faz sempre, eles ficam disponíveis imediatamente na plataforma. Por isso, não houve acordo para a exibição nos cinemas franceses antes da estreia – Okja entra no ar mundialmente no dia 28 de junho. Por causa da controvérsia, o festival decidiu que, a partir do ano que vem, todo filme que participar da competição precisará ter exibição garantida nos cinemas franceses.
Já o astro americano Will Smith, que atua em Bright, um filme da Netflix em pós-produção, defendeu a plataforma de streaming. “Tenho filhos de 16, 18 e 24 anos de idade em casa. Eles vão ao cinema duas vezes por semana e assistem à Netflix. Há muito pouca intersecção entre o que veem no cinema e o que assistem na plataforma. Na minha casa, a Netflix não prejudica em nada sua ida ao cinema, eles vão para serem impactados por certas imagens e ficam em casa para outros filmes. Na minha casa, a Netflix só foi benéfica, eles assistem a coisas que jamais veriam. A Netflix ampliou a compreensão cinematográfica global dos meus filhos.”
O júri que anuncia a Palma de Ouro no domingo é formado ainda pela diretora, roteirista e produtora alemã Maren Ade, a atriz e produtora americana Jessica Chastain, a atriz e produtora chinesa Fan Bingbing, a atriz, roteirista e diretora francesa Agnès Jaoui, o diretor, roteirista e produtor sul-coreano Park Chan-wook, o diretor e roteirista italiano Paolo Sorrentino e o compositor francês Gabriel Yared.