‘Ouvir os vocais de Ozzy pessoalmente é de arrepiar’, diz Zakk Wylde
Ex-guitarrista de Ozzy Osbourne fala a VEJA sobre a amizade com o 'Príncipe das Trevas' e o lançamento do novo disco de sua banda, o Black Label Society
Com o cabelo e a barba compridos além do normal, o guitarrista Zakk Wylde, de 56 anos, surge animado do outro lado da tela, em uma videoconferência com a reportagem de VEJA. O guitarrista, cuja fama foi conquistada na banda de Ozzy Osbourne, com participações em discos clássicos como Just Say Ozzy e No More Tears (que completou trinta anos em 2021), fundou em 1998 o Black Label Society, uma das bandas mais criativas do heavy metal. Em 26 de novembro, o Black Label Society lança seu 11º álbum, Doom Crew Inc, com faixas inspiradas pela pandemia que celebram a vida e lamentam a morte. “Este é provavelmente o melhor álbum de todos os tempos. Eu diria, da minha parte, jamais a indústria musical verá algo melhor do que isso”, diz Wylde em tom de brincadeira.
No bate-papo, o músico — que também é um exímio guitarrista de blues e fez uma apresentação gratuita no Brasil em 2019 dentro do festival Samsung Best of Blues — falou sobre sua amizade com Ozzy Osbourne, com quem tocou por mais de trinta anos, e também sobre como ele vê o futuro do rock. Leia a seguir os principais trechos.
No More Tears, um dos mais importantes discos da carreira solo de Ozzy Osbourne, completou trinta anos em 17 de setembro. Que recordações tem deste álbum? Não acredito que já se passaram trinta anos. Para mim, o disco foi uma continuação de tudo que estava acontecendo. O Ozzy cantava e eu colocava as harmonias. Ele ficava: “Zakk, você precisa ouvir isso”. E cantava para mim no telefone. E eu ficava: “Uau! Isso é ótimo”. Ouvir os vocais de Ozzy pessoalmente é de arrepiar. Me lembro principalmente das toneladas de risos que tínhamos no estúdio. Foram momentos nada além de ótimos.
Você tem contato com o Ozzy? Sabe como está a saúde dele? Conversei com o Ozzy ontem à noite. Ele estava bem, se preparando para uma cirurgia corretiva no pescoço [Ozzy sofreu uma queda em casa em 2019] para poder voltar à estrada. Você sabe como o Ozzy é. Ele me disse que queria apenas que esses caras consertassem ele. Disse para ele não se preocupar com isso e que essa loucura iria acabar logo. Esse é o plano.
O rock e o heavy metal sempre foram estilos musicais contestadores e rebeldes. Você acha que eles envelheceram e estão mais conservadores? Quando o Led Zeppelin acabou ou quando o Jimi Hendrix morreu, todos ficaram surpresos e pensaram que nada melhor poderia surgir. E nós estamos aqui. Entende? De repente temos Metallica, Guns N’ Roses e coisas assim. Eu acho que são apenas inspirações diferentes.
Por falar em Guns N’ Roses, no passado, você quase tocou com eles. Se fosse o contrário, acha que Axl cantaria no Black Label Society? Axl é o último grande frontman do rock. Quando ele substituiu o Brian Johnson no AC/DC foi incrível. O Axl realmente ama o Bon Scott e o Brian. Ele se encaixou perfeitamente. Quando eu tentei tocar com o Guns, foi quando o Matt Sorum estava na banda. Naquela época, a gente fazia umas jams juntos, mas nada estava acontecendo no Guns. Estava tudo meio no ar. E eu precisava trabalhar. Então foi basicamente assim que o Black Label Society nasceu.
Todo domingo você posta em seu Instagram uma selfie com um Jesus crucificado ao fundo. Você é religioso? É como Ozzy disse outro dia quando conversávamos sobre isso. A religião significa apenas que queremos coisas boas. Essas fotos simplesmente querem dizer para as pessoas serem legais. É tudo isso que precisamos. Faça a coisa certa.
Muita gente acha que o rock é “tudo coisa do demônio”. O que diria para essas pessoas? Eu não poderia me importar menos com elas. Não ligo para isso. É o que eu disse: seja um cara legal. Ou vá embora.
Frequentemente você é incluído em listas dos melhores guitarristas do mundo. O que pensa sobre isso? Steve Vai disse uma vez que não existe “o melhor”. Existe o seu favorito. O que dizer de Jeff Beck, Jimmy Page, Eric Clapton, Jimi Hendrix, Tony Iommi? Acho que só depende do seu humor. Se você perguntar para uma pessoa quais são os discos do Led Zeppelin ou do Rolling Stones que ela prefere, ela responderá de acordo com o seu próprio gosto e não por uma lista de melhor de todos os tempos. Steve Vai está certo. É como escolher o sabor de pizza favorito. Eu gosto de todos.
Seu filho mais novo, de 9 anos, se chama Sabbath Page, em homenagem aos grandes do rock. Ele também se interessa por música? Ele está completamente vidrado no rock clássico. Ele ama Queen, Stones e Beatles. Faça uma pergunta trivial para ele, do tipo: “Em que ano Paul Rodgers tocou no Bad Company?” e ele saberá responder. É hilário. Ele assiste esses canais do YouTube que contam essas histórias. Eu não o forcei a nada e ele já sabe tocar Hotel California, Stairway to Heaven e Bohemian Rhapsody. Eu apenas o apoio.