1 – CUZ I LOVE YOU, de Lizzo (Warner)
Em novembro, ao ser brindada com oito indicações para o Grammy 2020, a cantora americana enumerou os sacrifícios que fez até ser ouvida. Ela teve de passar noites dormindo no próprio carro, cantou em troca de cerveja e comida, enfrentou a morte do pai e chegou a ficar com a conta bancária negativa. No mundo do pop, repleto de intérpretes curvilíneas e de porte atlético, Lizzo chama atenção. Está muitos quilos acima do peso, e sua voz exibe uma rouquidão por vezes exasperante. Ela, porém, triunfa justamente por fugir aos padrões — e mostrar uma liberdade criativa que resume o volátil espírito millennial. Sua música traz elementos de rock, soul, pop, hip-hop e até gospel. Cuz I Love You, seu terceiro disco, convida à pista de dança, mas também faz pensar. As letras falam de respeito e empoderamento: a faixa Soulmate enaltece a vida de solteira, enquanto Juice é pura autocelebração. “Sou como chardonnay, fico melhor com o tempo”, canta.
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2 – PLANETA FOME, de Elza Soares (Deck)
Perto de completar 90 anos, a cantora carioca tem demonstrado um fôlego e uma sede pelo novo de causar inveja às jovens intérpretes nacionais. Planeta Fome é o terceiro álbum da fase de energia renovada iniciada em A Mulher do Fim do Mundo, de 2015. O título do belo trabalho de 2019 faz alusão ao momento da década de 50 em que a então jovem Elza se apresentou no programa de calouros de Ary Barroso no rádio. Ao ver a moça mal-ajambrada, o autor de Aquarela do Brasil perguntou-lhe de qual planeta ela vinha. “Planeta Fome”, tascou Elza. No disco, a cantora exibe a mesma contundência ao encarar temas que mexem com o Brasil de hoje: racismo, homofobia e política. Elza se faz acompanhar por talentos do novo pop nacional. O grupo BaianaSystem está presente em Libertação e o rapper BNegão apimenta Blá Blá Blá. A cantora dá também outra roupagem a Comportamento Geral, de Gonzaguinha, transmutando-a em um poderoso reggae de protesto.
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3 – WESTERN STARS, de Bruce Springsteen (Sony Music)
O cantor e compositor americano sempre traduziu de modo exemplar os anseios e as dificuldades do cidadão médio de seu país. Western Stars, seu primeiro trabalho-solo em catorze anos, lança um olhar carinhoso sobre o Velho Oeste dos Estados Unidos. Springsteen já tinha falado brevemente sobre o tema em Nebraska, álbum de 1982 gravado somente com voz e violão. Neste, contudo, o tratamento musical é tão elaborado quanto num faroeste de John Ford: ouvem-se orquestras, coros femininos e guitarras discretas que remetem às produções dos anos 70 de Nashville, berço do cancioneiro country. Springsteen sempre foi um grande criador de personagens, e eles aparecem de modo esplendoroso em Western Stars. Na faixa-título, o cantor fala de um ator veterano, orgulhoso de ter tomado um tiro do eterno caubói John Wayne. O disco traz à luz, ainda, tipos fascinantes como um dublê capaz de listar todos os ferimentos acumulados em décadas de profissão (Drive Fast — The Stuntman) e um caronista que se gaba de suas aventuras (Hitch Hikin’).
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Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667
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