Biografia não-autorizada, O Rei da TV estreou nesta quarta-feira, 19, no Star+, para contar – com bastante licença poética – a história de Silvio Santos. A série acompanha o começo de vida humilde de Senor Abravanel e sua trajetória até se tornar um dos maiores empresários do Brasil e símbolo incontestável da TV brasileira. Criada por André Barcinski, Ricardo Grynszpan e Marcus Baldini (que dirige a obra), a produção narra as manias do dono do bordão “Quem quer dinheiro”, momentos decisivos de sua carreira e coloca alguns personagens que não existiram, mas que seriam a junção de pessoas que trabalharam diretamente com o magnata da comunicação que começou a trabalhar como camelô. Inúmeros exemplos curiosos surgem em cena nos três primeiros episódios – os únicos, de um total de oito, a que VEJA teve acesso prévio.
O INÍCIO
Uma das primeiras histórias contadas em O Rei da TV é que Silvio Santos iniciou sua carreira de empreendedor como ambulante, vendendo canetas, ideia roubada de outro camelô. O adolescente, entretanto, começou vendendo capinhas para título de eleitor em 1946. A produção exibe um policial indicando Senor para uma vaga em uma rádio por ter se impressionado com a desenvoltura dele, mas a existência desse policial não é confirmada. De qualquer forma, o jovem de fato conseguiu um emprego paralelo como locutor de rádio, o que o levou a conhecer Manuel de Nóbrega (1913-1976).
BAÚ DA FELICIDADE
Na ficção, Silvio Santos teria dado uma de malandro para tomar de Nóbrega o controle do Baú da Felicidade. Porém, relatos indicam que o empresário deu de presente o carnê para o pupilo por ter dificuldades em gerir o negócio, que era voltado a pessoas dispostas a pagar mensalidades para obter produtos ao final de doze meses. Poderoso da Globo, Rossi (Celso Frateschi) é uma direta alusão a José Bonifácio, o Boni, com quem Silvio teria criado uma rivalidade instantânea e o responsável por tentar roubar Gugu do SBT.
A PRIMEIRA ESPOSA
Como mostrado na série, a primeira esposa do apresentador, Cidinha, realmente existiu e foi escondida por ele. Ela é mãe de Cintia, a primogênita de Silvio Santos, e foi com ela que o comunicador adotou Silvia. A dona de casa morreu aos 39 anos, em decorrência de um câncer, e o empresário achava a imagem de solteiro mais apelativa e agradável ao seu público feminino. Durante conversa com Hebe Camargo (1929-2012) em um programa de calouros em 1988, ele admitia ter se arrependido da forma como tratara Cidinha. “Eu acho que é uma das coisas imperdoáveis que eu fiz diante da minha imaturidade”, assumiu ele.
GUGU LIBERATO
Outro ponto curioso de O Rei da TV é o retrato da relação de Silvio Santos com Gugu Liberato (1959-2019), que é mostrado abertamente como homossexual e aparece até numa piscina com dois garotões. Segundo o criador André Barcinski, esta parte é baseada no que se falava dele na imprensa e nos bastidores. A produção também mostra que o empresário, com um grave problema nas cordas vocais, se recusara a passar seu posto para Gugu, já que os domingos eram dele e o louro então ocupava os sábados com o programa Viva a Noite (1982-1992), culminando em uma puxada de tapete e uma decisão impulsiva do empresário: colocar no ar reprises do Programa Silvio Santos. Tudo para evitar a ascensão de um “novo Silvio Santos” – postura que só mudou quando Liberato foi cortejado pela Globo. De fato, Gugu quase foi para a emissora concorrente do SBT, mas Silvio interviu e o trouxe de volta, arcando com uma multa milionária.
FUNCIONÁRIOS “FANTASMAS”
Enquanto Cidinha (Roberta Gualda), Iris Abravanel (Leona Cavalli) e as filhas de Silvio são reais, outros personagens foram inventados, como Cleusa (Larissa Nunes), a gerente de programação que Silvio Santos quase se recusa a contratar por ser uma mulher negra. Além disso, a figura de Stanislaw (Emilio de Mello) foge bastante não só aos fatos como à verossimilhança em relação ao comportamento de Silvio. Trata-se de um grande executivo do SBT que daria até ordens no dono da emissora – algo altamente improvável, já que o empresário sempre geriu o SBT do jeito que lhe dava na telha.