‘O Destino É o Caminho’, o guia de um cético sobre o Caminho de Santiago
O jornalista Ricardo Rangel oferece uma crônica pessoal, mas com lições para qualquer viajante, a respeito da jornada até Santiago de Compostela
Desde o século IX, na alta Idade Média, milhares de devotos acorrem todos os anos à cidade espanhola de Santiago de Compostela. Acredita-se que as relíquias de um dos apóstolos de Cristo, Santiago Maior, estejam depositadas na catedral que divide com Roma e Jerusalém o título de maior destino de peregrinação cristã — na verdade, o termo “peregrino” surgiu para designar quem se dirige até lá. O jornalista carioca Ricardo Rangel expõe esses saborosos detalhes históricos logo no início de O Destino É o Caminho. Mas, ao ler sua recém-lançada crônica sobre a experiência de percorrer a rota de Santiago, também se nota que Rangel — colunista político de VEJA — não preenche os requisitos do típico peregrino. Agnóstico, ele vê com descrença as relíquias do santo, e confessa ter abandonado antes do fim um livro que renovou o misticismo em torno do tema, O Diário de um Mago, de Paulo Coelho. Bon vivant, luta ao longo das 176 páginas para driblar micos como vinhos ruins e albergues com percevejos e hóspedes roncadores. Ao final, contudo, vem o milagre: a jornada revela-se enriquecedora para o autor e seus leitores. “O Caminho é uma experiência de liberdade extrema, algo quase inconcebível na vida moderna”, reflete.
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O ceticismo é o que faz do autor um guia insuspeito para examinar as razões que levam tantos ainda hoje a se render a essa procissão de quase 800 quilômetros a pé. Rangel tinha uma ideia vaga sobre o que vinha a ser o Caminho de Santiago até sentir, perto dos 50 anos, o desejo de uma guinada. Após viver uma desilusão amorosa e desligar-se de sua empresa, ele abraçou o projeto com fervor: impressiona o modo como percorreu do lugarejo francês de Saint-Jean-Pied-de-Port até o destino final, em 2014, com tudo milimetricamente estudado.
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Embora O Destino É o Caminho seja um relato pessoal, futuros viajantes poderão extrair lições da aventura. Das festas de touros em Pamplona às vinícolas de La Rioja, passando por dicas de como enfrentar as bolhas nos pés, Rangel oferece opiniões de um viajante rodado. Seu livro é também uma investigação de como o caminho medieval mantém seu magnetismo no mundo atual. No contato com gente de muitos países, ele descobre uma ética peculiar. “É preciso ser obtuso para não aprender sobre si mesmo e para não incorporar, por pouco que seja, esse espírito do Caminho, de ser mais suave, de se preocupar menos, de ser mais tolerante, de tentar não julgar os outros”, escreve. Mesmo o maior dos incrédulos sairá do processo com a fé renovada na vida.
Publicado em VEJA de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708
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