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Nocautes e cliques: o que move a onda de lutas de boxe entre influencers

Não bastasse contribuir para a pancadaria das redes sociais, eles usam a tendência para faturar alto com cachês e pay-per-view

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h16 - Publicado em 9 jul 2023, 08h00
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  • Em meados de 2019, o humorista e influenciador digital Whindersson Nunes, de 28 anos, surpreendeu seus fãs ao revelar que sofria de depressão. Como parte do tratamento, buscou auxílio no boxe — esporte que nunca praticara, mas adorava acompanhar. Nos anos seguintes, Nunes compartilhou com seus 59 milhões de seguidores no Instagram (ele também tem mais de 4 bilhões de visualizações no YouTube) sua excruciante rotina de treinamentos. Ao final, confiante, desafiou — a princípio, em tom de brincadeira — ninguém menos do que o tetracampeão mundial aposentado Acelino Freitas, o Popó, que topou a peleja. Ocorrida no ano passado, a luta terminou empatada, mas despertou em Nunes o interesse por participar de uma nova tendência que está movimentando o milionário mercado de pay-per-view nos Estados Unidos: as lutas entre celebridades da internet. “Parei minha carreira toda para me dedicar a isso”, revelou à época.

    Boxing: A Cultural History

    Para além da injeção de adrenalina no ego dos participantes, as rinhas de boxe entre influencers viraram um negócio global. Está longe do clássico conceito de nobre arte, é verdade, pois vem com pintadas daquelas marmeladas das lutas livres coreografadas, mas inegavelmente se tornou um sucesso de público. De um lado, o influenciador cria conteúdos para seus seguidores e atrai patrocinadores, vende pacotes de pay-per-view e ingressos para as lutas, além de movimentar sites de apostas. De outro, o boxe recebe uma nova audiência, num momento importante para a modalidade, principalmente entre os jovens, que migraram nos últimos tempos para as refregas dos octógonos do MMA.

    Vivendo como um guerreiro

    A nova tendência ganhou força com o americano Jake Paul, em 2020. Dono de 20 milhões de seguidores no YouTube, ele usou sua influência para promover uma luta entre os aposentados Mike Tyson e Roy Jones Jr. Paul também decidiu lutar e desafiou o jogador de basquete Nate Robinson. O resultado deu tão certo (Paul venceu) que apostou em novas lutas. A mais recente, há nove meses, foi contra a lenda brasileira Anderson Silva, o Spider, de 48 anos. Paul nocauteou Silva no último assalto. Mais brasileiros entraram na onda, como o ex-BBB Yuri Fernandes, o youtuber Christian Figueiredo e o funkeiro Dynho Alves, cujas músicas embalam propagandas em sites de aposta. “Isso não é esporte, é entretenimento”, diz Sérgio Batarelli, empresário do boxeador Esquiva Falcão, medalhista olímpico em 2012. Falcão também lutou (e ganhou) recentemente contra Yuri Fernandes. “Ele fez pelo dinheiro, óbvio”, afirma Batarelli.

    O dono da Meta, Mark Zuckerberg (à esquerda) e o proprietário do X, antes conhecido como Twitter, Elon Musk (à direita).
    LUTA DE BILHÕES - Mark Zuckerberg e Elon Musk: duelo no Coliseu, em Roma? (Fotos Mandel NGAN/AFP; Alain JOCARD/AFP)
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    De lá para cá, outras disputas esdrúxulas surgiram, como um curioso campeonato entre tiktokers e youtubers que movimentou 10 milhões de dólares em pay-per-view. Mas o que está chacoalhando mesmo esse universo é o campeonato High Stakes, promovido pela empresa inglesa Kingpyn. Com oito homens e oito mulheres (e um total de seguidores que ultrapassa 210 milhões de pessoas), o torneio premiará o vencedor com um cheque de 200 000 dólares. Favorito, Whindersson Nunes está na semifinal. No próximo dia 15, na Irlanda, ele lutará com o youtuber King Kenny. Do lado feminino, na mesma data, a musa fitness brasileira Jully Poca enfrentará a britânica Elle Brooke, famosa por conteúdos sensuais no OnlyFans. No Brasil, as lutas serão transmitidas pelo canal Combate.

    Anderson Spider Silva

    A mania chegou tão longe que poderemos ver em breve um combate entre os bilionários Elon Musk, dono da Tesla e do Twitter, e Mark Zuckerberg, do Facebook e Instagram — naquela que já está sendo considerada a luta do século. Fanfarrão, Musk desafiou Zuckerberg para a disputa após ver um vídeo dele num torneio de jiu-jít­su. O concorrente mandou avisar que aceita a briga e sugeriu como cenário o Coliseu, em Roma, com a renda revertida para a caridade. Difícil pensar num palco mais adequado para os gladiadores da era digital.

    Publicado em VEJA de 12 de julho de 2023, edição nº 2849

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