A Academia Sueca anunciou nesta quinta-feira, 6, o laureado do prestigioso Nobel de Literatura. A escolhida foi a autora francesa Annie Ernaux, 82 anos, que, segundo a entidade, apresenta “coragem e visão cirúrgica que são usadas como ferramentas com as quais ela desenterra raízes, alienações e restrições pessoais da memória”. Ernaux é presença confirmada na Flip, a Festa Literária de Paraty, neste ano.
Presença constante nas listas de apostas ao Nobel, Ernaux marcou a literatura ao misturar em seus livros experiências pessoais observadas a partir de um ponto de vista social. Assim, a escritora de classe emergente, filha de comerciantes, revelou, segundo a Academia “experiências de classe, descrevendo a vergonha, a humilhação, a inveja ou a incapacidade humana de se enxergar como é. Assim, ela atingiu um patamar admirável e duradouro”.
Nascida em Yvetot, pequena cidade da Normandia, em 1940, Annie Duchesne (Ernaux é o nome de seu ex-marido, Philippe) cresceu sob uma forte mudança social na França pós-Guerra. Em reconstrução, o país passou por uma reorganização empurrada pela ascensão da luta de classes. Mulher e vinda de uma região ignorada pela capital Paris, Annie quebrou barreiras ao ingressar na universidade e se dedicar à escrita. No emocionante O Lugar, livro de 1983 que marcou seu estilo literário, ela faz um relato emotivo após a morte do pai, contando a trajetória da família atrelada ao momento histórico francês. Em certo ponto, Annie nota que a luta dos pais para que ela estudasse e tivesse uma vida melhor culminou, inadvertidamente, num distanciamento sentimental entre eles, causado pela estrutura intelectual e econômica do país. Em suma: eles não combinavam mais.
Nos livros de Ernaux, o ato de rememorar o tempo vivido não é apenas uma lembrança, mas uma reconstituição crítica do passado — ou, na definição da autora, uma “autossociobiografia”. A escritora é a 17ª mulher a ganhar um Nobel de Literatura. Em 2021, o prêmio foi concedido ao escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, quinto africano a conquistar o Nobel. No ano anterior, a Academia selecionou a poeta americana Louise Glück.