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Nobel de Literatura 2022 vai para autora francesa Annie Ernaux

Escritora de 82 anos se destacou ao mesclar histórias pessoais com críticas sociais, num gênero definido por ela como 'autossociobiografia'

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 out 2022, 09h37 - Publicado em 6 out 2022, 08h06
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  • A Academia Sueca anunciou nesta quinta-feira, 6, o laureado do prestigioso Nobel de Literatura. A escolhida foi a autora francesa Annie Ernaux, 82 anos, que, segundo a entidade, apresenta “coragem e visão cirúrgica que são usadas como ferramentas com as quais ela desenterra raízes, alienações e restrições pessoais da memória”. Ernaux é presença confirmada na Flip, a Festa Literária de Paraty, neste ano.

    Presença constante nas listas de apostas ao Nobel, Ernaux marcou a literatura ao misturar em seus livros experiências pessoais observadas a partir de um ponto de vista social. Assim, a escritora de classe emergente, filha de comerciantes, revelou, segundo a Academia “experiências de classe, descrevendo a vergonha, a humilhação, a inveja ou a incapacidade humana de se enxergar como é. Assim, ela atingiu um patamar admirável e duradouro”.

    Nascida em Yvetot, pequena cidade da Normandia, em 1940, Annie Duchesne (Ernaux é o nome de seu ex-marido, Philippe) cresceu sob uma forte mudança social na França pós-Guerra. Em reconstrução, o país passou por uma reorganização empurrada pela ascensão da luta de classes. Mulher e vinda de uma região ignorada pela capital Paris, Annie quebrou barreiras ao ingressar na universidade e se dedicar à escrita. No emocionante O Lugar, livro de 1983 que marcou seu estilo literário, ela faz um relato emotivo após a morte do pai, contando a trajetória da família atrelada ao momento histórico francês. Em certo ponto, Annie nota que a luta dos pais para que ela estudasse e tivesse uma vida melhor culminou, inadvertidamente, num distanciamento sentimental entre eles, causado pela estrutura intelectual e econômica do país. Em suma: eles não combinavam mais.

    Nos livros de Ernaux, o ato de rememorar o tempo vivido não é apenas uma lembrança, mas uma reconstituição crítica do passado — ou, na definição da autora, uma “autossociobiografia”. A escritora é a 17ª mulher a ganhar um Nobel de Literatura. Em 2021, o prêmio foi concedido ao escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, quinto africano a conquistar o Nobel. No ano anterior, a Academia selecionou a poeta americana Louise Glück.

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