“Ela é uma das melhores escritoras do mundo de quem você nunca ouviu falar”. Foi assim que a revista de literatura britânica The Bookseller apresentou a polonesa Olga Tokarczuk no ano passado, quando ela levou o Man Booker Prize. Agora, laureada com o Nobel de Literatura, a fama mundial finalmente baterá na porta da complexa autora. No Brasil, há poucas traduções das obras de Olga — e todas estão fora de catálogo. Cenário que vai mudar a partir de novembro, quando a editora Todavia lança por aqui o primeiro de dois livros que vão ganhar novo acabamento e tradução direta do original.
Confira, a seguir, uma seleção de três títulos essenciais para conhecer a obra de Olga Tokarczuk.
Sobre os Ossos dos Mortos
O livro será o primeiro a ser lançado pela editora Todavia no Brasil, em novembro, com tradução de Olga Bagińska-Shinzato. No romance, Janina Duszejko é uma mulher excêntrica na casa dos 60 que narra a história do desaparecimento de seus dois cães. Reclusa, ela vive num vilarejo afastado e prefere a companhia de animais a de seres humanos. Quando dois membros de um clube de caça local são encontrados mortos, ela se envolve nas investigações.
O livro é um suspense não convencional, com teor filosófico e que reflete sobre temas como a loucura, a injustiça contra indivíduos marginalizados e os direitos dos animais — a própria Olga é vegetariana e militante da causa. A obra foi selecionada pelo jornal britânico The Guardian como um dos 100 melhores livros do século e adaptado para o cinema no filme Rastros, das diretoras holandesas Agnieszka Holland e Kasia Adamik. O longa levou o Urso de Prata do prêmio Alfred Bauer (que elege filmes de linguagem inovadora) no Festival de Berlim de 2017.
Viagens
Vencedor do Man Booker International Prize, em 2018, o livro chegou ao Brasil em 2014 pela editora Tinta Negra como Os Vagantes. Em 2020, o romance ganhará uma nova edição pela Todavia, sob o título (ainda provisório) Viagens. Com uma viajante sem nome como fio condutor, o livro apresenta 116 contos que misturam personagens reais e fictícios, em uma trama filosófica sobre a alma e o corpo, a vida e a morte, e que atravessa um longo período entre os séculos XVII e XXI. De fato uma “viagem”, a obra ainda investiga as práticas de conservação de órgãos e cadáveres, incluindo práticas como a plastinação de corpos — trama costurada por elementos da mitologia até a medicina. O título original do livro no polonês, Bieguni, diz muito sobre o sentido da obra: a palavra é uma referência a uma lenda do país, que diz que estar em constante movimento protege o corpo de todo o mal.
The Books of Jacob
Ainda sem edição brasileira, Os Livros de Jacó (em tradução livre) narra a história de Jacob Frank, figura histórica do século XVIII. Ele foi o líder de uma misteriosa seita de judeus que se converteram tanto ao islamismo quanto ao catolicismo. No livro, a autora explora a história de Jacob pela perspectiva de seus seguidores e também daqueles contrários a ele. Assim como o personagem, a publicação da obra dividiu opiniões: ao mesmo tempo em que foi altamente elogiado pela crítica e premiado com o Nike (2015), mais alta honraria literária da polônia, The Books of Jacob foi recebido por grupos de extrema-direita com uma reação violenta, incluindo ameças de morte à autora.
Para o comitê do Nobel, o romance histórico é “a obra-prima” de Olga Tokarczuk, que “mostrou neste trabalho, a capacidade suprema do romance de representar um caso quase além da compreensão humana”.