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Ney Matogrosso: ‘Não sei o que é não-binário. Só sei que sou assim’

Cantor fala a VEJA sobre seu novo disco 'Nu com a Minha Alma' e sobre ser um pioneiro do chamado 'gênero-fluido': 'nunca me escondi'

Por Marcelo Canquerino 3 nov 2021, 12h07

Aos 80 anos, Ney Matogrosso permanece sendo uma voz incensada da música nacional, desde que o país o conheceu em 1973, com a explosão do Secos & Molhados. Em plena ditadura militar, o intérprete de Homem com H desafiava os padrões ao se apresentar como uma figura andrógina, que fez dele um símbolo comportamental e sexual. Ainda quebrando barreiras, Matogrosso lançou recentemente o disco Nu com a Minha Alma, gravado durante a pandemia. O processo de produção do álbum foi registrado em um documentário em quatro episódios, disponibilizado em seu canal no YouTube. A VEJA, o cantor fala sobre as motivações por trás do novo projeto e como tem se mantido na ativa: 

Nu com a Minha Alma foi gravado em meio à pandemia. O que foi diferente em comparação a uma gravação convencional? Tudo! Eu estava afogado na escuridão da pandemia. Fazia tudo o que eu podia para sair disso. Dançava e ouvia mantras. Então falei para mim mesmo: Quer saber de uma coisa? Eu vou gravar um disco. Também decidi fazer isso porque meu aniversário se aproximava e eu não podia fazer uma festa. Assim eu comemorei meu aniversário e tinha um pretexto para trabalhar. 

Imaginava chegar aos 80 anos com tanta vontade e energia de produzir música? Não. Nunca nem imaginei chegar aos 80. Antigamente quando falavam ‘anos 2000’, era uma coisa tão distante para mim que eu dizia: Nossa, nos anos 2000 todas as pessoas que conheço desde criança já vão ter morrido’. Já estamos aqui em 2022 quase. Me mantenho na ativa porque tenho disposição para isso. Gosto do meu trabalho, de fazer show, e de cantar. O que a gente faz com prazer não pesa.

Por ser uma figura andrógina, se considera um precursor das pessoas de gênero-fluido e não-binárias? Eu não sei o que significam esses termos, o que é não-binário, gênero fluído. Sei que sou assim. Só sei que eu fui a primeira pessoa pública a assumir meu jeito sem problemas. Assumi publicamente porque eu não saberia conviver com a mentira nem tendo que me esconder. Foi para manter a minha sanidade mental. 

O senhor sempre gostou de se manter em forma ou isso veio com o tempo? Uma vez eu saí na rua, aqui no Leblon, eu tinha 50 anos, e vi um homem muito velho. Ele estava de sunga e de tênis, e tinha a pele muito enrugada. Mas eu percebi que por baixo daquela pele havia tônus muscular. Então eu disse: se isso é possível, eu quero. Comecei a fazer exercícios físicos como nadar na praia, andar na areia, além de fazer shows. Desde os 50, me exercito diariamente. Quer dizer, fazia diariamente até uns 2 anos atrás. Hoje só de segunda a sexta. Mas eu gosto de pegar peso. 

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Alguma canção em particular lhe tocou neste novo disco? É muito difícil falar de uma canção apenas, mas eu diria Mi Unicornio Azul, que  ouvi pela primeira vez na década de 80 na voz de Sílvio Rodríguez, no Canecão. Depois de ouvi-lo eu pensei: algum dia vou cantar essa música. E agora chegou a hora. Já tinha pensado nela no Bloco na Rua [disco de 2019], mas não cabia. 

Acha que seu jeito de se expressar artisticamente escandalizou mais a família tradicional no passado ou choca mais a atual? Eu acho que na época do Secos & Molhados teve um grande impacto. Mas eu não vim com a intenção de escandalizar. Vim com a intenção de me mostrar como uma pessoa livre. Isso no auge da ditadura, o que deve ter incomodado muita gente — mas por outro lado abriu a mentalidade de muitas outras pessoas. Eu sei e tenho consciência disso. 

O senhor sempre falou abertamente sobre sua vida pessoal. Acha que isso pode ter atraído a geração mais jovem para conhecer seu trabalho? Eu sempre fui assim, não é de agora. Jamais saberia viver me escondendo. Seria impossível para mim ter uma vida dupla. Tenho sido muito claro desde a minha primeira entrevista na época do Secos & Molhados. Na época me perguntaram o que eu achava sobre sexo, e eu disse tudo o que pensava. Quando eu li colocaram a palavra amor (eu não tinha falado sobre amor, isso aconteceu por causa da censura). Mas eu nunca me escondi. Sempre fui muito claro. Mas só falo de mim. As pessoas com quem eu tive algo podem ficar despreocupadas, porque vou levar para o túmulo todas essas informações. 

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