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Ney Matogrosso: “Brasil de hoje é muito mais conservador”

Cantor fala a VEJA sobre música, velhice e militância LGBTQIA+

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h19 - Publicado em 30 jul 2021, 06h00
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  • ANDROGINIA - No centro, no Secos & Molhados: no auge da ditadura, rebolado explosivo nos palcos -
    ANDROGINIA - No centro, no Secos & Molhados: no auge da ditadura, rebolado explosivo nos palcos – (./Divulgação)

    Ney Matogrosso fala a VEJA sobre música, velhice, militância LGBTQIA+ — e afirma que o Brasil hoje em dia está mais conservador que no passado.

    Na sua juventude, como o senhor imaginava chegar aos 80 anos? Na minha adolescência, os anos 2000 estavam tão longe que pairava uma dúvida se o mundo aguentaria até lá. Agora, tenho 80 anos e estou me sentindo normal. Sabe por quê? Porque tenho saúde. Estou saudável, criativo e com estímulos para trabalhar mais. Então, 80 é só um número.

    Cinquenta anos após o surgimento de sua persona andrógina, diversos artistas agora se assumem como de gênero fluido ou “não binários”. O que pensa disso? Eu gosto de ser do sexo masculino, mas isso não me impede ou me restringe em nada. Acho meio difícil de entender esse movimento. Significa que eu posso ir para qualquer lado? Quer dizer, eu posso ir para um lado agora e daqui a pouquinho para outro? É isso? Se for isso, então eu sempre fui isso sem saber.

    Recentemente, o senhor foi criticado por dizer que não queria levantar bandeiras da causa LGBTQIA+. Por que essa postura? Quando eu me refiro a isso, estou falando da época do Secos & Molhados. Seria muito conveniente para o sistema, naqueles tempos, que eu me dissesse gay, e ponto. Talvez eu seja, até hoje, o artista que mais claramente expressou suas colocações sexuais. Minha vida desmente tudo isso aí.

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    O Brasil de 2021 está mais liberal ou conservador nos costumes em relação aos anos 70? Muito mais conservador. Por incrível que pareça, no auge da ditadura militar, as pessoas iam para a praia de microssungas. As mulheres usavam quase nada. Além disso, a pobreza e a miséria no país atualmente são assustadoras. Me dá vontade de chorar.

    O senhor sempre foi reservado na vida pessoal e, há duas semanas, saiu a segunda biografia já publicada a seu respeito, do jornalista Julio Maria. O que pensa de ver sua história contada em livros? Nunca escondi minha vida. Sempre falei com clareza do que vivi. Não há nada que eu queria ocultar. Mas tenho segredos que não estão em nenhum livro e que envolvem pessoas que quero preservar. Isso, eu não libero para ninguém. Pertence só a mim e a quem viveu comigo. São segredos bem guardados.

    Publicado em VEJA de 4 de agosto de 2021, edição nº 2749

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