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Museu da Diversidade Sexual reabre em SP com história de língua travesti

Mostra 'Pajubá: A Hora e a Vez do Close' ocupa maior parte dos 540 metros quadrados do espaço e remonta à história do dialeto original brasileiro

Por Thiago Gelli Atualizado em 29 Maio 2024, 19h42 - Publicado em 29 Maio 2024, 16h43
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  • Em abril de 2022, o Museu da Diversidade Sexual se preparava para comemorar dez anos de existência, mas, de supetão, foi interditado por uma liminar que questionava a administração tocada pelo Instituto Odeon. Pouco embasada, a ação do deputado Gil Diniz (PL), autointitulado “carteiro reaça”, questionava o iminente projeto de reforma avaliado em 9 milhões de reais e conseguiu interditar o equipamento por quatro meses, mas não durou. Em setembro do mesmo ano, a Justiça suspendeu a decisão por unanimidade e permitiu a retomada dos planos do aparelho, que reabriu suas portas por breve período, e então as fechou novamente — desta vez por bom motivo. Nesta quarta-feira, 29, a instituição enfim recebe o público novamente — dias antes da Parada LGBT de 2024 — em espaço reformado e expandido, ainda dentro da Estação República do Metrô, em São Paulo. Dos singelos 100 metros quadrados de outrora, pulou para 540, dentro dos quais exibe duas exposições gratuitas: Pajubá: a hora e a vez do close e Artes Dissidentes: o céu que brilha no chão.

    De cara nova, o espaço agora recebe seus visitantes com um hall de entrada pomposo e excêntrico, próprio da vida noturna paulistana. O carpete fúcsia reluzente e as paredes prateadas reflexivas, porém, logo dão vazão a um comedido espaço expositivo, onde simples estandes de madeira deixam que as obras, artefatos e recortes fiquem a cargo da atenção.

    Com curadoria de Amara Moira e Marcelo Campos, Pajubá é o maior destaque e remonta aos caminhos da linguagem elaborada por mulheres trans e travestis durante a Ditadura Militar, código “secreto” empregado para a proteção do grupo, especialmente entre suas representantes inseridas na prostituição. Partindo de identidades indígenas e figuras históricas como Maria Quitéria, o conjunto exposto tece uma linha contínua dentro da história brasileira para rebater o apagamento da sigla, e pouco se interessa em higienizar ou romantizar os percalços do caminho, destacando formas de autodefesa, registros da imprensa homofóbica e feridas ainda abertas da crise da aids na década de 1980, eternizada por artistas expostos como Leonilson e cartilhas de texto marcante — feito “Traveca Esperta Só Transa Com Camisinha na Neca”. Olhando para os ecos do momento no Brasil de hoje, a exposição ainda destaca trabalhos contemporâneos como Condom Couture, vestido inteiramente tecido de camisinhas vencidas ou danificadas pela artista Adriana Bertini.

    Já menor em tamanho e duração, Artes Dissidentes é sutilmente dividida de Pajubá por paredes provisórias e representa a rotina da comunidade por São Paulo. Em sua plataforma digital, o museu ainda exibe algumas exposições virtuais e promove um clube do livro e encontros mensais pela cidade, chamados “Rolezinhos LGBTQIA+”, nos quais representantes da instituição guiam visitantes através de pontos importantes para a história da sigla. Em entrevista a VEJA, o diretor presidente do Instituto Odeon, Carlos Gradim, fala da revitalização do MDS, dos planos para o futuro do museu e de como o novo capítulo da instituição busca atingir outros públicos:

    Quais as expectativas para o futuro do museu no momento? As expectativas são as melhores possíveis. Nas visitas de imprensa e convidados, tivemos um gostinho do quanto as novas exposições tocam o público de forma afetiva. Nosso desejo sempre foi de fazer um museu que pudesse ser extramuros e que criasse diálogo com toda a sociedade. Houve também uma grande adesão de nomes da dramaturgia e do Senado Nacional quanto à importância da reabertura do museu, e a expansão do próprio espaço agora possibilita uma maior diversidade de narrativas. No caso de Pajubá, temos uma linha do tempo histórica junto a trabalhos artísticos feitos para a própria exposição. Esperamos que a exposição instigue o sentimento de conversa e de respeito à diversidade humana e de gênero.

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    Como o museu planeja atingir públicos para além da bolha da sigla? Isso é um foco nosso, central ao plano estratégico. Trabalhamos, por exemplo, com a ONG “Mães pela Diversidade”, que nos traz um contingente de mulheres que, às vezes, têm até filhos que não se identificam com qualquer identidade dissidente. Sempre procuramos representantes da sociedade civil que proporcionem espaços de aprendizado. Esse talvez seja nosso maior desafio.

    Hoje, a equipe do museu sente maior estabilidade e segurança perante críticas externas? Eu não acho que a sigla hoje seja um lugar de tensão contra o resto da sociedade. Considero até preconceituosa essa separação, no sentido de que a história LGBT não está separada de pessoas pretas e outras minorias. Nesse sentido, a própria exposição é muito interessante , já que o pajubá é inspirado nas línguas de terreiro — que não usavam artigo e, logo, eram naturalmente neutras. Somos um espaço para a diversidade e nossa função é lidar com todos os públicos. Nos mantemos abertos para todos que queiram nos conhecer.

    Além do pajubá, o museu emprega a linguagem neutra em seus textos. Quão importante é para o equipamento promover essa mudança? Se refletimos a comunidade LGBT+, temos que representá-la sem ressalvas aqui. O pajubá, por sua vez, surgiu como linguagem de proteção e hoje é um recurso artístico e estético. A linguagem e a literatura, logo, também se adaptam. Claro que gramáticos têm suas questões e cada pessoa tem uma perspectiva, mas a linguagem neutra é um movimento de transformação em curso que, por via de regra, se dá dentro da sociedade. A língua é flexível, mutável e passou por diversas transformações, algumas das quais estão registradas aqui no museu. Utilizar a língua neutra, então, cria, inclusive, diálogos para que os visitantes compreendam suas implicações políticas e sociais e para que mudanças ocorram não pela violência, nem pelo ódio, mas pela conversa, entre outras possibilidades.

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    Serviço:

    Museu da Diversidade Sexual
    Estação República do Metrô, piso Mezanino
    De terças a domingos, das 10h às 18h
    Entrada gratuita

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