Morre Boris Fausto, historiador e cientista político, aos 92 anos
Escritor e acadêmico especializado em temas como os governos de Getúlio Vargas faleceu em São Paulo
O escritor, historiador e cientista político Boris Fausto morreu nesta terça-feira, 18, aos 92 anos, em São Paulo. A informação foi confirmada pela Fundação FHC. Fausto também era advogado e professor. Ele deixa dois filhos, o antropólogo Carlos Fausto e o cientista político Sergio Fausto, diretor-geral na Fundação FHC, e quatro netos.
A Fundação FHC lamenta o falecimento de Boris Fausto, advogado, professor, livre-docente em Ciência Política, escritor e um dos maiores historiadores do Brasil. pic.twitter.com/7LtKagTVb4
— Fundação FHC (@fundacaofhc) April 18, 2023
Boris Fausto escreveu A Revolução de 1930 – Historiografia e História, livro publicado em 1970 e considerado um dos maiores clássicos da ciência política e social do Brasil. Na obra, o autor contesta a defesa de São Paulo durante a Revolução de 1930 e na Revolução Constitucionalista de 1932.
O escritor nasceu em São Paulo em 8 de dezembro de 1930, se tornou bacharel em direito em 1953 pela Universidade de São Paulo, e em 1966 se formou em história, também pela USP, onde conquistou doutorado no tema três anos depois. Foi professor no departamento de ciência política da universidade, integrou a Academia Brasileira de Ciências e foi colunista semanal do jornal Folha de S. Paulo.
Com o tempo, Fausto foi convertido a autor pop ao escrever livros sobre crimes reais famosos, como o “crime da mala”, caso em que o imigrante italiano Giuseppe Pistone assassinou sua esposa, Maria Féa, no bairro da Luz, em São Paulo, e ocultou seu corpo em uma mala. Em livros como O Crime do Restaurante Chinês (2009) e O Crime da Galeria de Cristal (2019) – que abriga o caso de Pistone –, Fausto explora as possibilidades do que os franceses chamam de faits divers — os “fatos diversos”, pequenos acontecimentos que ganham interesse ao se revestir de excepcionalidade, como os assassinatos rumorosos e grandes desastres. Com essa bagagem, ele se tornou um dos percursores do true crime – quando ainda nem existia tal termo e tamanha popularidade – no Brasil.
Em uma de suas entrevistas a VEJA, o historiador defendia a importância da abordagem de tragédias cotidianas na literatura. “O estudo do crime vai ao encontro de um movimento de valorização, na historiografia contemporânea, de novos temas capazes de iluminar o cotidiano e a vida privada de uma época. A partir de um evento microscópico como um crime, podemos compreender melhor o passado no âmbito macro”, declarara ele em 2019.