Nos anos 1970, o designer Milton Glaser precisava criar um símbolo para promover o turismo de Nova York, à época uma das metrópoles mais violentas do mundo. Mas queria fazê-lo sem apelar para soluções óbvias como a Estátua da Liberdade ou o Empire State. Uma tarefa tão difícil quanto promover o Rio de Janeiro sem falar do Pão de Açúcar ou do Cristo Redentor. Sentado no banco traseiro de um táxi amarelo (outro indiscutível ícone local), Glaser desenhou com lápis de cera um coração vermelho atrás de um envelope de papel, cercado pelas letras: “I NY”. A solução absurdamente simples condensou com graça e leveza, e de maneira atemporal, o sentimento dos moradores e turistas. Hoje, a aconchegante marca é um dos símbolos mais reconhecidos no mundo e está estampada em praticamente todos os suvenires à venda na Times Square.
Anos antes, em 1954, com amigos de faculdade, fundou o Push Pin Studios, um local onde, segundo ele, “era influenciado por toda a história visual da humanidade”. Sob essa óptica ele produziu, em 1967, o histórico pôster da coletânea Greatest Hits, de Bob Dylan, combinando as cores vivas da paleta hippie com as linhas sinuosas da arte islâmica, para colorir os cabelos do cantor e compositor sobre uma foto de perfil, em preto e branco. Um ano depois, com o editor Clay Felker, criou a New York Magazine, uma das primeiras revistas de estilo de vida do mundo, cujo formato foi copiado por várias outras publicações internacionais.
Nascido em 1929, no Bronx, Glaser trabalhou em Manhattan na época em que o lugar era o polo mais efervescente da publicidade americana. Não à toa, anos mais tarde foi convidado para fazer a arte do episódio final da série Mad Men, sobre os publicitários daquele período. Em 2009, foi agraciado pelo presidente Barack Obama com a Medalha Nacional das Artes. Glaser morreu na sexta-feira 26, aos 91 anos, de derrame cerebral, em Nova York.
Publicado em VEJA de 8 de julho de 2020, edição nº 2694