De onde vem a vontade de se aventurar pelo mundo? Sempre tive isso. Já fiz excursões por terra e pelo ar — sou piloto desde os 22 anos (Fercondini hoje tem 33). Então pensei que seria óbvio fazer uma expedição pelo mar. Talvez o barco seja a experiência mais romântica: tem mais contato com a natureza, e uma filosofia de vida diferente. O veleiro é veículo mais lento. Dá mais tempo para apreciar as paisagens.
Qual o seu roteiro? Agora estou em Lisboa, mas vou navegar sobretudo pelo norte do Mediterrâneo. Daqui a um ano e meio, mais ou menos, devo chegar a Istambul, na Turquia.
Como é sua rotina? Quando estou em uma marina, acordo cedo, preparo um café de manhã e fico em função do barco, trabalhando em alguma manutençãozinha. Quando estou velejando, percorro geralmente trechos de doze ou treze horas, começando às 4 da manhã. Faço refeições leves e tomo banho no barco, enquanto navego. Tenho bastante tempo para ler e para escrever. Quando a navegação flui da maneira que espero, geralmente chego ao entardecer na próxima marina.
Não bate solidão? No início da viagem, eu me questionei sobre isso, mas depois relativizei a solidão. É um prazer ter esses momentos só para mim. Aprendi a dar tempo ao tempo. Na costa da Espanha, por exemplo, houve um problema mecânico no barco e fiz uma parada que não estava no meu planejamento. Às vezes, é a meteorologia que atrasa a viagem, e não adianta pressa com o que a gente não pode controlar. Ou eu digo a mim mesmo: “Este lugar aqui é demais, vou aproveitar por mais tempo”. Tudo isso tem me ensinado a ter calma em todas as situações. É o ritmo com que o barco me leva.
É bom estar distanciado da discussão eleitoral no Brasil? Tenho internet no barco e acompanho tudo. Estamos vivendo um momento histórico, de muita polarização mas também de participação na política. Sou brasileiro e me sensibilizo com isso. A política me afeta mesmo aqui no barco.
Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2018, edição nº 2605