O que o Crô representa na sua vida? Acredito que todo artista tem um personagem do coração, aquele que é um divisor de águas na vida. O Crô é assim para mim. As pessoas não se esquecem dele, ainda sou lembrado na rua por causa desse personagem. Eu fiz filmes, ele virou meme em uma época em que isso mal existia. Mas uma coisa que eu estou adorando é que, além de poder sentar no meu sofá para vê-lo, o que eu não conseguia fazer no período das gravações, meus filhos — que têm 7 anos e na época não eram nascidos — estão podendo assistir à novela junto comigo. E isso não tem preço.
O que explica o sucesso da reprise? É surpreendente, não? A leveza é o grande segredo. É uma novela que tem maldade e alegria na medida certa. Em tempos de coronavírus, a pessoa pega o jornal, liga a televisão e só escuta sobre a pandemia que choca e mata milhares de pessoas ao redor do mundo. A população pede leveza, alegria, relaxamento. Acredito que a novela dá uma diversão ao povo que está de quarentena em casa, buscando uma pausa no noticiário pesado.
Não o incomoda ser reconhecido apenas por um tipo? De jeito nenhum. Eu fico feliz pelo Crô ter tocado o coração de tantas pessoas. Um dos momentos mais emocionantes da minha vida foi quando eu desfilei na Sapucaí e mais de 220 ritmistas estavam vestidos de Crô — e eu na frente deles. Um personagem que representei ter essa força toda é indescritível. Eu fico muito feliz.
Alguma história divertida sobre sua relação com Crô? Em 2016, gravando Velho Chico no sertão da Paraíba, eu fazia um vilão de bigode. Estava descansando após gravar uma cena difícil quando um senhor passou cavalgando, me encarou e disse: “Olha se não é o Crô de bigode”. Ri muito.
Publicado em VEJA de 22 de abril de 2020, edição nº 2683