Anticolonialista perseguido pelo governo português nos anos 1960, o socialista Marcelino dos Santos entrou para a história de Moçambique como um dos líderes do movimento de independência do país africano de Portugal. Santos foi membro-fundador da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido de linha marxista-leninista que, desde a independência, em 1975, governa o país. Favorável à aliança com a União Soviética, mantida até a dissolução do bloco comunista, ele teve papel relevante durante os quinze anos de guerra civil, encerrada em 1992. Era conhecido como hábil articulador nos bastidores e rejeitava o título de herói. “Eu não sou da Frelimo. Eu sou a Frelimo”, autodefinia-se.
Depois da independência, foi ministro do Planejamento e, com a criação da Assembleia Popular, em 1977, foi seu presidente até 1994. Em 2006, Santos afirmou não ter sido um problema jamais ter chegado à Presidência. “Na Frelimo, nós temos uma maneira de ser que hoje ainda impera: a gente nunca decide o que quer”, explicou. Foi também celebrado poeta — os “independentistas” tinham o costume de escrever poesias ditas de “combate”. Seu único livro, Canto do Amor Natural, foi editado em 1987. Morreu aos 90 anos, em Maputo, na terça-feira 11. “Perdemos nosso ícone, o camarada Marcelino dos Santos”, lamentou o presidente moçambicano Filipe Nyusi.
Publicado em VEJA de 19 de fevereiro de 2020, edição nº 2674