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Mara Maravilha, a linguaruda a serviço de Cristo — e de Silvio Santos

Para a apresentadora evangélica, a ex-cantora infantil renascida no 'Fofocalizando', do SBT, falar mal da vida alheia é pecado. Mas "comentar", não

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h18 - Publicado em 1 nov 2019, 06h00

Evangélica há vinte anos, a baiana Mara Maravilha viu-se, em 2016, no meio de dois dilemas divinos. Depois de mais de uma década longe da TV, a ex-cantorinha infantil, agora transformada em uma vistosa mulher de 51 anos com gosto por adereços prateados, foi tirada do limbo por Silvio Santos. O problema: ao integrar o elenco do Fofocalizando, exibido nas tardes do SBT, ela teria de, bem, fofocar adoidado. A religião desaprova o falatório maldoso sobre a vida do próximo, claro. Mas Mara garante não incorrer em pecado no ar. “Não faço fofoca. Só comento as notícias”, diz. O outro dilema decorre de uma saia­-justa entre seus dois patrões, o mundano e o espiritual. O Fofocalizando foi criado por Silvio para tentar fazer frente (até agora em vão) ao bem-sucedido quadro A Hora da Venenosa, exibido pela Record — que é propriedade de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Mara é seguidora. Pode-se acender vela para dois santos? A resposta sai rápido da boca da linguaruda. “Edir é um profeta”, declara. “Mas, para mim, Jesus está em primeiro lugar. Depois, vem Silvio Santos.” Amém.

Se fosse um personagem bíblico, Mara teria nascido da própria costela do dono do SBT. Foi pelas mãos dele que ela ganhou seu show infantil, nos anos 80. Nascida em Itapetinga, no interior da Bahia, foi descoberta por Silvio quando comandava um programa numa TV de Salvador. No SBT, teve alguns instantes de glória. Mas a concorrência das loiras Xuxa, Angélica e Eliana deixou a morena por baixo. Quando Angélica foi contratada pelo SBT, em 1993, Mara foi acusada de ter feito um trabalho de macumba para prejudicar a rival — fato nunca comprovado. “Falei certa vez com a Angélica a respeito disso. Ela foi receptiva”, diz.

Em sua sobrevida como cantora, Mara chegou a gravar um clipe no Pelourinho com o Olodum. “Fiz isso antes do Michael Jackson. Acho que ele me imitou”, afirma. No ponto baixo da carreira, no fim dos anos 90, converteu-se em evangélica e cantora gospel. Passaram-se mais duas décadas, contudo, até que Silvio lhe estendesse a mão de novo na TV. Na dúvida, além de agradecer ao benfeitor, Mara faz juras de amor às herdeiras do homem do Baú: “Se eu não puxar o saco das filhas do patrão, vou puxar de quem?”.

Mara virou uma trapalhona fundamental para o Fofocalizando fazer valer seu trunfo: embora alcance míseros 6 pontos no ibope, seus babados internos superam a repercussão de A Hora da Venenosa nas redes. Ao engrossar a bancada de alcoviteiros, Mara exibiu a mesma fúria com a qual Jesus tratou os vendilhões do templo. Brigou com os colegas Leo Dias e Lívia Andrade e passou um tempo na geladeira — segundo ela, para tratar de problemas da coluna. De volta à atração, fez as pazes com todos. “Leo Dias me pediu perdão ao vivo. Assim como eu, ele é um ingrediente necessário”, analisa. Hoje, diz estar de bem com as cobras do programa: “O povo fala muita coisa, mas até papagaio fala”. Com salário de 25 000 reais, Mara agora atua como repórter do Fofocalizando, além de ser figurinha fácil em outras atrações do SBT. Dessa forma, aos trancos, barrancos e citações da Bíblia, ela voltou aos holofotes. E acalenta um sonho dourado — ou melhor, prateadíssimo: “Eu quero ser referência”.

Publicado em VEJA de 6 de novembro de 2019, edição nº 2659

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