É mesmo verdade: Hugh Jackman está deixando o papel que o consagrou, Wolverine, depois de 17 anos e nove aparições em filmes. E não, ele não vai fazer a versão musical, como disse na coletiva de imprensa no final da tarde da sexta-feira (17), no 67º Festival de Berlim, onde Logan, dirigido por James Mangold, faz sua estreia mundial, fora de competição.
Simpático como sempre, o ator agradeceu a acolhida: “Muito obrigado por nos receberem aqui. É um sonho para nós. Sabíamos que esta seria minha última vez no papel, então não queríamos que o filme fosse limitado por um gênero, classificação indicativa, ou conexões com longas anteriores”. O australiano, de curativo no nariz por causa do tratamento de outro tumor maligno de pele, declarou seu amor pelo personagem. “Não posso dizer que vou saudade dele, porque Logan sempre vai viver aqui comigo. E os fãs vão me lembrar dele também”, disse, rindo. “É parte de quem sou. Mas não vou sentir falta do peito de frango”, brincou, referindo-se à dieta rigorosa para entrar em forma para interpretar o mutante.
Logan/ Wolverine sempre foi o personagem mais dramático do universo X-Men. Capaz de se auto-curar, violentíssimo, ciente de que acaba machucando as pessoas de quem se aproxima e solitário também por sobreviver a todas elas, sua tragédia está muito clara no novo filme, que se passa em 2029. Os mutantes praticamente foram extintos. Enquanto dirige sua limusine, em 2029, Logan faz corridas ao México para cuidar do Professor X (Patrick Stewart), que, nonagenário, inspira cuidados médicos, e tenta se esconder do mundo. Claro que o anonimato não dura. Logo, está sendo ameaçado por Pierce (Boyd Holbrook, o agente de Narcos), capanga de uma grande companhia, e procurado por Gabriela (Elizabeth Rodriguez), que lhe deixa de herança uma menina, Laura (Dafne Keen), uma mutante superpoderosa que também tem garras de aço, que usa para decapitar seus perseguidores sem piedade.
Indagado se não era perigoso colocar uma criança que mata num filme, o diretor se defendeu. “Essas crianças são atores. Criamos um ambiente de muito amor. Fazer um filme é muito diferente de ver. Dafne cresceu neste meio e sabe a diferença entre ficção e realidade”, disse. “Agora, este filme não foi feito para crianças, não apenas por causa da violência, mas dos temas, como a natureza da vida e da morte.” Mangold também acha que é preciso mostrar que, quando há violência, a vida de uma pessoa acaba, para não retornar. “Muitas vezes nos filmes morrem centenas de pessoas, mas, como há menos sangue, a violência não é discutida”, disse.
Entre os temas do filme, alguns parecem ter sido feitos sob medida para os dias de hoje. Não é difícil comparar as crianças mutantes, que ninguém quer, com os imigrantes e refugiados – há, inclusive, cercas que precisam transpor. “As grandes histórias jogam luz sobre quem somos”, disse Jackman. “No filme, é um mundo em transformação, em que discutimos se é melhor separar ou conectar. Se é mais seguro viver sozinho ou se, mesmo mais perigosa, a conexão com outros é melhor. Também é um filme sobre família, sobre cuidar dos mais velhos, sobre as consequências da violência. Espero que o filme tenha essa ressonância.”
Segundo o ator, Logan é a primeira vez que sentiu ter ido fundo na essência do personagem. “Este personagem está comigo há 17 anos, mas não acho que tinha conseguido fazer isso antes, às vezes por minha culpa, outras do tipo de narrativa. Mas queria que fosse o filme que, quando meus netos me perguntarem qual deles deveriam assistir, eu pudesse dizer este. É uma carta de amor aos fãs.”