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Livro resgata história da poeta que deu ao Rio o apelido de Cidade Maravilhosa

Obra conta como Jane Catulle Mendès, escritora francesa e musa da Belle Époque, criou o epíteto que marcaria a metrópole para sempre

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 out 2025, 08h00

Em setembro de 1911, quando a então capital federal, o Rio de Janeiro, esforçava-se para se consolidar como a “Paris dos trópicos”, a chegada de Jane Catulle Mendès causou espanto. Musa parnasiana e figura célebre da Belle Époque francesa, Jane desembarcou para proferir palestras, recebida com rapapés, mas deixaria um outro presente: o epíteto que marcaria a metrópole para sempre: “Cidade Maravilhosa”.

O livro A Poeta da Cidade Maravilhosa (Autêntica), do jornalista e historiador Rafael Sento Sé, resgata a trajetória da poeta e desvenda os pormenores de uma viagem que se estenderia muito além do planejado, para então reconfigurar a identidade carioca. O Rio de Janeiro, recém-transformado pelas reformas do prefeito Pereira Passos e saneado pelo médico Oswaldo Cruz, acolhia a viúva do influente escritor Abraham Catulle Mendès. O obje­ti­vo da moça, então com 44 anos: buscar afirmação e autonomia intelectual longe da sombra do marido.

Jane era descrita nos jornais brasileiros com hipérboles que a elevavam ao status de realeza, como uma “deusa escultural de marmórea beleza”. Sua presença, viajando apenas com uma jovem assistente, já era algo incomum para a época. A faísca que acendeu o epíteto ocorreu durante uma escala na Baía de Guanabara, a caminho de Buenos Aires. Ela testemunhou um pôr do sol que a deixou “completamente apaixonada”, algo que lhe pareceu “qualquer coisa sonhante”.

VISITA - A musa parnasiana: ela desembarcou pelas bandas de cá em 1911, aos 44 anos
VISITA – A musa parnasiana: ela desembarcou pelas bandas de cá em 1911, aos 44 anos (ABC/Alamy/Fotoarena/.)

Ao retornar, convocou um “chá das cinco” com jornalistas, no Hotel dos Estrangeiros. Foi nesse contexto, ao atender a um pedido de autógrafo da equipe de A Imprensa, que o termo foi formalmente registrado. Na dedicatória, datada de 21 de setembro de 1911, Jane escreveu: “Rio de Janeiro est une ville merveilleuse dont je suis eblouie” (Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa, que me deslumbra). “Foi uma coisa espontânea dela”, diz Sento Sé.

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A paixão de Jane pelo Rio foi tão intensa que, em 1913, ela lançou o livro de poemas La Ville Merveilleuse, um “diário poético” que reunia 33 textos, muitos dedicados a personalidades brasileiras. A obra, escrita em versos dodecassílabos e com a eloquência parnasianista, capturava a beleza exuberante do Rio, com poemas dedicados à Baía de Guanabara, à Praia Vermelha e aos bambuzais. “É um livro também sobre a representatividade da mulher na literatura”, analisa Sento Sé.

Circulando em produtos culturais populares, como o programa de rádio de César Ladeira e uma peça de teatro de revista estrelada por Aracy Cortes, ambos chamados Cidade Maravilhosa, o epíteto finalmente alcançaria a imortalidade por meio do Carnaval. Em 1935, André Filho inscreveu a marchinha Cidade Maravilhosa no concurso da prefeitura. A canção, interpretada por Aurora Miranda, ficou em segundo lugar, mas ganhou sobrevida ao ser incluída na trilha sonora do filme Alô, Alô, Brasil. No Carnaval de 1936, a marchinha estourou, obliterando qualquer lembrança das manifestações artísticas anteriores, inclusive o livro de Jane.

Sento Sé passou treze anos buscando as “pedrinhas miudinhas” da história, reunindo as peças para desvendar, nas palavras dele, um “segredo de 100 anos”. O autor documenta a irônica conclusão desse esquecimento: a única homenagem pública à poeta no Rio, uma praça em Campo Grande, foi nomeada Praça Catulle Mendès, perdendo a referência a Jane e sendo erroneamente associada ao marido. Faz-se agora justiça à musa que ajudou a propagar aos quatro cantos os encantos da cidade maravilhosa.

Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964

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