Kobra se defende após investigação de fraude em mural
Artista e prefeitura de Boa Vista, em Roraima, foram alvos de busca e apreensão na Operação Aquarela, do Ministério Público, Polícia Civil e Gaeco
Conhecido por pintar murais coloridos ao redor do mundo, Eduardo Kobra foi alvo, nesta sexta-feira, 22, da Operação Aquarela, investigação do Ministério Público de Roraima em conjunto com a Polícia Civil e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) que apura se houve fraude no contrato de 400.000 reais para a produção de um mural do artista na cidade de Boa Vista. Procurado por VEJA, Kobra negou qualquer irregularidade e avisou que está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.
Agentes cumpriram quatro mandatos de busca e apreensão no estúdio de Kobra em São Paulo; na prefeitura de Boa Vista; e na casa de Daniel Lima, superintendente da Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura (Fetec), responsável pelos contratos de obras culturais. Há a suspeita do superfaturamento no contrato para que Kobra fizesse um mural de 180 metros de comprimento no Parque Rio Branco, um dos pontos turísticos principais do município, onde figuras de uma iguana gigante, uma mãe e um bebê, dois tamanduás e uma mulher foram pintadas e assinadas pelo artista em dezembro de 2020. A obra começou a escorrer em menos de quatro meses. A prefeitura de Boa Vista também foi procurada pela reportagem, mas não retornou aos contatos.
O projeto do mural foi idealizado pelo grafiteiro, mas reproduzido por duas pessoas de sua equipe na época, já que o pintor estava cumprindo isolamento devido ao auge da pandemia da Covid-19 e por se integrante do grupo de risco. Em conversa com VEJA, Kobra explica que a deterioração do mural em apenas quatro meses se deve às chuvas na região e à qualidade do muro do parque, mas ressaltou que sua equipe chegou a fazer uma restauração da obra em maio de 2021, sem custo adicional para a prefeitura.
“Eu tenho murais no mundo inteiro e isso jamais ocorreu da forma que ocorreu ali [em Roraima], porque houve uma questão estrutural, excesso de chuva, infiltrações no muro. Então não teve nada a ver com a tinta que a gente usa, porque é a mesma que a gente usa em outros projetos ao redor do mundo. Claro que existe, sim, uma degradação natural, mas leva de quatro a oito anos, nunca em três meses”, justificou o artista. “Todo o processo foi completamente transparente, todas as contas prestadas, então, eu fui pego de surpresa porque é algo que a gente se colocou à disposição para resolver. Não sei qual é a questão, mas eu tenho plena convicção que a justiça é totalmente coerente e vai poder resolver da melhor forma essa situação”, completou.