O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul interrompeu a obra que demoliu parte da casa onde viveu o escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996), em Porto Alegre. O despacho se deu após uma ação pública movida contra o município, que autorizou a demolição do sobrado, localizado no bairro Menino de Deus, para um casal de dentistas.
O documento deferido pelo juiz Hilbert Maximiliano Akihito Obara diz ser “lamentável a notícia da derrubada das paredes da casa”. E que, porém, “ainda é possível evitar a consumação integral dos danos”. “A memória e o patrimônio cultural de um povo são compostos por bens e valores inestimáveis, razão pela qual qualquer risco de lesão deve ser imediatamente reparado (…) O presente e o futuro democráticos exigem a tutela dos símbolos culturais e históricos, como posto na Constituição.”
Um protesto contra a demolição do imóvel foi marcado para o dia 19 de julho. Porém, chegando ao local, os manifestantes se depararam com a casa destruída. Nome marcante da literatura e do jornalismo brasileiro, com passagens por diversos veículos, entre eles a revista VEJA, Caio Fernando Abreu ficou conhecido como o autor “maldito”. A alcunha foi dada pelo caráter ácido, honesto e sem amarras de seus textos, que tratavam de temas tabus através de análises confessionais e profundas. Quando foi diagnosticado com Aids, falou abertamente sobre o assunto na imprensa.
Na tarde desta quinta-feira, 28, a associação Amigos do Caio Fernando Abreu terá uma reunião com o Secretário de Cultura do município para decidir o futuro do terreno. O plano é que um centro cultural em tributo ao escritor seja criado ali ou em outro local da cidade, a depender das negociações.