Em 5 de março de 1977, o trompetista Maurice Murphy chegou para seu primeiro dia de trabalho na Sinfônica de Londres e teve a missão de gravar uma partitura do compositor John Williams. Batizada de Star Wars, ela se iniciava com um solo que mudaria para sempre a vida de Murphy — e, claro, a história das trilhas de cinema. Poucos temas são tão reconhecíveis quanto os criados pelo americano Williams, de 87 anos. Quase toda cena dos nove episódios contém um fundo musical do compositor. Williams é entusiasta de um recurso chamado leitmotif. Popularizado pelo alemão Richard Wagner, o leitmotif anuncia a presença do personagem por meio da música. O caso mais expressivo é a Marcha Imperial, sinal da chegada do vilão Darth Vader. Em A Ascensão Skywalker, a música é usada a rodo nas cenas de outra entidade do mal, o imperador Palpatine.
Williams bebe da influência dos compositores românticos e da música do século XX em suas trilhas famosas. As explosões de trompetes e trompas remetem a Richard Strauss, Gustav Mahler e Wagner. A Marcha Imperial une Gustav Holst, Frédéric Chopin e Serguei Prokofiev. E não há como escutar o tema do filme Em Cada Coração um Pecado (1942), composto pelo austríaco Erich Korngold, e não notar uma curiosa semelhança com o de Star Wars. Williams faz um brilhante trabalho de corte e costura para converter o erudito em pop.
Publicado em VEJA de 25 de dezembro de 2019, edição nº 2666