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‘Jezabel’, a capeta de saia da Record

Na novela, os bispos da emissora valem-se da maior vilã da 'Bíblia' para veicular uma mensagem antifeminista: mulher que não se comporta acaba no inferno

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jul 2019, 15h24 - Publicado em 26 jul 2019, 07h00

“Você não é uma mulher como as outras”, diz, com olhar lascivo, o rei israelita Acabe (André Bankoff) a Jezabel (Lidi Lisboa), depois que a princesa fenícia, então sua noiva, promete liberdade religiosa na parceria entre os dois reinos. A proposta, feita nos primeiros capítulos da novela Jezabel, exibida pela Record desde abril, na faixa das 20h45, dura pouco: logo ela pede que os templos do Deus de Israel sejam derrubados, para impor os cultos pagãos a Baal e Aserá.

Mentira é um pecado menor na escala de maldade da vilã. Tanto quanto o próprio Satanás ou Caim, que assassinou o irmão por inveja, Jezabel é notória persona non grata da Bíblia. Nos dois livros de Reis, do Antigo Testamento, ela é figura secundária: faz as vezes de antagonista do herói e profeta Elias (Iano Salomão, no folhetim). Jezabel, no entanto, tem tudo de uma perfeita megera de novela. A moça persegue inimigos com crueldade e faz sacrifícios humanos. Com uma receita que inclui ainda eventos sobrenaturais como fogo caindo do céu, o folhetim chegou a 10 pontos no Ibope em São Paulo.

Para além do sucesso, a emissora do bispo Edir Macedo usa o programa para veicular certa agenda doutrinária: Jezabel encarna os supostos perigos da liberação feminina. Se na Bíblia sua marca é a ânsia de propagar o paganismo, na novela ela ganha outros defeitos. É vaidosa ao extremo (dá-lhe maquiagem pesada e bijuterias), trai o maridão adoidado (embora não haja problema no fato de o rei ter um harém) e mete-se em política (supremo pecado!). Ao investir nesse raciocínio, a emissora reproduz uma visão em voga entre denominações evangélicas, para as quais sua má fama originou até um jargão, “espírito de Jezabel” — que se atribui a mulheres que saem da linha. O perigo do empoderamento do capeta é reforçado no contraste entre ela e Aisha (Adriana Birolli), mulher de pouca maquiagem, fala mansa e olhar baixo diante do rei Acabe, de quem também é esposa.

Ninguém questiona a vilania de Jezabel, mas os defeitos com que era pintada no século IX a.C., quando se passa a narrativa bíblica, não fazem sentido no presente. “Foi uma mulher que atingiu um status de poder e prestígio, coisa que só os homens poderiam conquistar”, diz o teólogo Élcio de Mendonça. Na Bíblia, Jezabel tem final perturbador (olha o spoiler): é devorada por cães, restando só ossos e membros. Não dá arrepios imaginar essa cena em uma novela da Record?

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Publicado em VEJA de 31 de julho de 2019, edição nº 2645

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