Aaron Sorkin é conhecido pelos diálogos elaborados e pouco naturalistas, vistos em séries como The West Wing e The Newsroom e filmes como Rede Social e Steve Jobs. Eles são sempre um desafio para os atores. Em Molly’s Game, sua estreia na direção, baseada numa história real, os diálogos estão lá – ainda que suas famosas cenas “andando e falando” estejam praticamente ausentes. E, curiosamente, são ditos de maneira mais natural.
Talvez isso tenha a ver com a atriz escolhida para o papel principal, Jessica Chastain, que nunca parece estar brigando com as palavras, por mais construídos que sejam os diálogos. A atriz, que de novo já entra na lista de prováveis indicadas ao Oscar, interpreta Molly Bloom, uma atleta de salto de esqui que vê sua carreira interrompida por um incidente surreal: ter a bota arrancada por um galho de pinheiro. Sem saber o que fazer da vida, muda-se para Los Angeles e arruma trabalhos como garçonete e assistente de um produtor que começa a promover jogos de pôquer para ricos e famosos de Hollywood, como o Jogador X (Michael Cera) – que está no filme para representar atores que teriam participado, como Ben Affleck, Tobey Maguire e Leonardo DiCaprio.
Logo, Molly está ganhando milhares de dólares de gorjeta e, quando seu chefe lhe faz a proposta de cortar seu salário como assistente, ela resolve montar sua própria mesa de pôquer. Os flashbacks são intercalados com Molly no presente, quando ela está lidando com a acusação de estar ligada à máfia russa e contrata o advogado Charlie Jaffey (Idris Elba).
Sorkin foi acusado de misoginia no passado, mas Molly é uma personagem feminina rara no cinema, que, mesmo num ambiente quase inteiramente masculino, consegue se impor e lidar com classe com as investidas de alguns clientes. Mas, à parte o talento de Chastain, faltam no filme cenas mais poderosas, que talvez um diretor mais experiente conseguiria. E mesmo o roteiro tem menos pegada que outros de Aaron Sorkin.