As tendências ao pop e à música eletrônica de AMERICA – último álbum da banda Thirty Seconds to Mars – guardam críticas ácidas de Jared Leto ao governo de Donald Trump. O cantor, que apoiou a campanha de Hillary Clinton à Presidência dos Estados Unidos, conversou com VEJA sobre sua carreira e o cenário sócio-político de seu país, que, garante, é muito parecido com o do Brasil.
Leto recebeu a reportagem na suíte de seu hotel em São Paulo, vestindo calça de moletom verde, meias coloridas, uma touca de lã azul e camiseta da Harley-Davidson. A descontração do músico, esparramado no sofá, contrastava com a histeria da meia centena de fãs que acampava na porta do prédio, na esperança de conseguir uma foto com o cantor.
Ele visita a cidade com a banda Thirty Seconds to Mars – formada por ele e pelo irmão, Shannon – para um show no Espaço das Américas nesta quinta-feira. De São Paulo, o grupo segue para Porto Alegre, onde se apresenta no sábado, 29 de setembro, e depois para Curitiba, no domingo, 30, encerrando a passagem da turnê The Monolith pelo Brasil.
Além de cantor, Leto trilha uma carreira de sucesso no cinema. Em 2014, o músico ganhou o Oscar de ator coadjuvante por sua performance em Clube de Compras Dallas, como uma transexual soropositiva. Ele também interpreta o vilão Coringa, personagem que divide com o ator Joaquin Phoenix, apesar de não gostar de comentar o assunto. Não bastasse um malvadão, Leto ainda dará vida ao vampiro Morbius, um dos inimigos do Homem-Aranha, da Marvel.
Confira abaixo a entrevista completa.
Esta é segunda vez do Thirty Seconds to Mars no Brasil em menos de um ano. O que faz vocês quererem voltar? As pessoas, com certeza. Nossos fãs nos transmitem muito amor e energia durante nossas passagens pelo Brasil. Esse país é especial, e sempre ficamos felizes de voltar.
Vocês não costumam fazer músicas com outros artistas. Por quê? Acho que essa é uma prática mais comum no universo do pop e do hip-hop. Mas nós temos alguns featurings neste álbum, com A$AP Rocky, Halsey. Eu gostaria muito de trabalhar com um artista brasileiro também. O Brasil forneceu músicos ótimos para o mercado.
Você conhece a música brasileira, então? Sim, um pouco. Gosto muito do Projota. (Que se apresentou com a banda no show desta quinta-feira em São Paulo)
Além de sua carreira musical, você é ator, e fez bastante sucesso na pele do vilão Coringa. Como se sentiu diante da escalação de Joaquin Phoenix para interpretar o mesmo personagem que você? Próxima pergunta, por favor.
O Brasil está às vésperas de escolher um novo presidente, e as pessoas têm cobrado muito dos artistas que se manifestem a favor ou contra um candidato. Para você, o artista carrega essa responsabilidade? Não, de forma alguma. Falar sobre política é direito, não um dever. Eu não me sentiria confortável em comentar a política brasileira por ser de outro país, mas se eu falasse, seria por escolha, e não responsabilidade. Sou um artista, mas acima de tudo, sou um cidadão, e como tal, tenho o direito de participar do processo político. Eu admiro todos aqueles que se fazem ouvidos em época de política, mas é uma opção. Todos têm também o direito de guardar para si suas visões. Só porque você é famoso isso não muda. Os artistas têm uma plataforma para divulgar sua mensagem, e usá-la a favor da política é ótimo, mas, de novo, é uma opção.
Quais foram as inspirações para o seu novo álbum, AMERICA? Donald Trump. O álbum fala bastante de mim e das minhas visões sobre política. Vivemos um tempo interessante para ser um artista nos Estados Unidos, muito similar ao que vem acontecendo no Brasil. Acho que estamos em um momento político parecido.
Quais são seus próximos projetos? Estarei em turnê com o Thirty Seconds to Mars pela América Latina até a metade de outubro, mais ou menos. Depois temos mais uma semana de shows em dezembro, e então eu vou me engajar nas filmagens de Morbius, e volto para a estrada no próximo verão.
Você estrela filmes tanto da DC, quanto da Marvel. Não é um pouco confuso? Tanto quanto o mundo que nós vivemos.
Nesta semana, Bill Cosby foi o primeiro condenado por assédio na era do #MeToo. Como um hollywoodiano, como enxerga esse movimento? Eu espero que tudo mude. Temos acompanhado pessoas que antes não tinham voz trazerem à tona seu sofrimento, e acho esse movimento lindo.