Não custou nada convencer Ivete Sangalo de que sua aparição na Marquês de Sapucaí começaria no chão, na comissão de frente, vestida de lavadeira — para lembrar os tempos em que sua mãe lavava roupa na beira do rio, e ao sol, “para quarar as peças”, em Juazeiro, na Bahia. Homenageada pela Grande Rio, ela só não aceitou a proposta dos coreógrafos e diretores da escola para diminuir seu tempo no desfile, já que só poderia participar de quatro ensaios (contra oitenta dos 24 bailarinos da comissão de frente), dois deles na academia de sua casa na Praia do Forte, em Salvador.
“Quero aparecer o tempo todo. Sou uma mulher aparecida, exibida. Dessa fruta, quero comer até o caroço”, respondeu.
E tão aparecida foi que até apareceu duas vezes: encerrada a participação na comissão de frente, ela ainda voltou em um carro alegórico, com o marido, Daniel Cady, e o filho. Ivete não poderia ficar de fora do Carnaval baiano: depois de sua estreia no Sambódromo carioca, embarcou em seu jatinho, às 4 da madrugada de segunda, rumo a Salvador. Fez terapia vocal nas três horas de viagem. “Cheguei às 8, tomei um bom banho e capotei”, disse a VEJA.
O fôlego para animar a multidão do alto de seu trio elétrico não saiu prejudicado. E parece que no Rio ela tomou gosto por dançar ao rés do chão. Na Quarta-Feira de Cinzas, sem avisar seus assessores e seguranças, saiu no meio da “pipoca” — a multidão que brinca fora dos cordões de isolamento dos trios elétricos.
Ao som de Durval Lelys, dançou com quem estivesse por perto — e nem sequer foi reconhecida: usava uma pesada maquiagem de palhaço, uma peruca e uma fantasia que ocultava as formas que ela gosta de exibir quando no comando de seu trio. “Muito prazer. Meu nome é Felicidade!”, apresentava-se ao pessoal da pipoca. “Foi disparado o melhor Carnaval da minha vida”, disse a cantora, que há 23 anos anima o maior Carnaval popular do país.