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Independência do Brasil teve até dor de barriga de Dom Pedro

Caio Castro mostrou brio em sequência em que, depois de mal-estar, príncipe regente proclama separação de Portugal, em capítulo fiel à história do país

Por Da redação
Atualizado em 8 set 2017, 12h36 - Publicado em 8 set 2017, 12h32
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  • O capítulo da Independência do Brasil é, talvez, o mais importante da nossa História. Trata-se, afinal, do episódio fundador do país, antes reino unido e colônia de Portugal. Isso certamente explica o cuidado que Thereza Falcão e Alessandro Marson, autores da novela Novo Mundo, tiveram ao recontar essa passagem histórica, levada ao ar pela Globo ontem, dia em que se comemoravam os 195 anos do Brasil independente.

    Além de destacar o papel que a mulher de Dom Pedro, a austríaca Leopoldina, teve no processo de separação de Portugal (foi ela, e não ele, quem assinou o documento de declaração da Independência), o capítulo pôs o filho de Dom João VI no lombo de uma mula (e não de um cavalo, como fez o pintor paraibano Pedro Américo no quadro Independência ou Morte) e ainda mostrou um detalhe mais curioso que fundamental do episódio: que Dom Pedro teve uma forte dor de barriga pouco antes de erguer o braço e anunciar a libertação do Brasil.

    “Pedro, estás a passar mal?”, pergunta Chalaça (Romulo Estrela), secretário e alcoviteiro de Dom Pedro, ao ver o personagem de Caio Castro arqueado, com a mão sobre a barriga, sob a chuva que caía no meio da floresta, à altura de Cubatão, então um vilarejo com menos de duzentos habitantes ao pé da serra do Mar. “Estou um ‘cadinho, Chalaça. Acho que foi alguma coisa que eu comi. Mas vamos. Temos pressa de chegar a São Paulo”, diz o ainda príncipe-regente, visivelmente dolorido, na manhã de 7 de setembro de 1822.

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    Dom Pedro (Caio Castro) sente fisgadas na barriga, perto da colina do riacho Ipiranga (Reprodução/TV Globo)

    Pouco depois, o prestativo Chalaça volta a se preocupar com o chefe. “Pedro, tu precisas descansar”, diz. O príncipe rebate. “Não será um mal-estar que irá vencer-me.” Ainda assim, Dom Pedro faz uma rápida parada em uma estalagem à beira da estrada, onde toma um chá antes de retomar viagem com a sua comitiva, rumo a São Paulo.

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    Os problemas intestinais de Dom Pedro já foram registrados em diversos livros, como 1822, de Laurentino Gomes. “O destino cruzou o caminho de D. Pedro em situação de desconforto e nenhuma elegância. Ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de 7 de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga. A causa dos distúrbios intestinais é desconhecida”, escreve Laurentino.

    “Acredita-se que tenha sido algum alimento malconservado ingerido no dia anterior em Santos, no litoral paulista, ou a água contaminada das bicas e chafarizes que abasteciam as tropas de mula na serra do Mar. Testemunha dos acontecimentos, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra e futuro barão de Pindamonhangaba, usou em suas memórias um eufemismo para descrever a situação do príncipe. Segundo ele, a intervalos regulares D. Pedro se via obrigado a apear do animal que o transportava para ‘prover-se’ no denso matagal que cobria as margens da estrada.”

    Laurentino Gomes também narra o pit-stop feito por Dom Pedro em Cubatão. “Prostrado pelos problemas intestinais, o príncipe refugiou-se na modesta estalagem situada à beira do porto fluvial de Cubatão. Maria do Couto, responsável pelo estabelecimento, preparou-lhe um chá de folha de goiabeira, remédio ancestral usado no Brasil contra diarreia. A ação do chá apenas aliviou temporariamente as dores do príncipe, mas deu-lhe ânimo para prosseguir a viagem.”

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    Dom Pedro (Caio Castro) toma um chá em uma estalagem para aliviar as dores de barriga (Reprodução/TV Globo)

    Nesse mesmo trecho de 1822, Laurentino Gomes confirma a existência de Chalaça, o fiel escudeiro de Dom Pedro em Novo Mundo, e mostra que é mesmo possível que ele tenha se preocupado com a saúde do príncipe.

    “Com 29 anos, Francisco Gomes da Silva, também chamado de ‘O Chalaça’ — palavra que significa zombeteiro, gozador ou piadista —, acumulava as funções de ‘amigo, secretário, recadista e alcoviteiro’ de D. Pedro, segundo o historiador Octávio Tarquínio de Sousa. Ou seja, era um faz-tudo, encarregado de arranjar mulheres para o príncipe, proteger seus negócios e segredos pessoais e defendê-lo em qualquer circunstância, por mais difícil e escusa que fosse.” Leia-se: mesmo numa dor de barriga.

    Em tempo: Caio Castro, surpreendentemente, mostrou brio e deu conta da cena mais importante de toda a novela, aquela em que Dom Pedro, do alto da colina do Ipiranga, proclama o Brasil livre de Portugal.

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