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Heloísa Teixeira: “Meu novo nome me libertou”

Por toda a vida conhecida como Heloísa Buarque de Hollanda, a imortal da Academia Brasileira de Letras, 84 anos, teme que a radicalização freie o bom debate

Por Mafê Firpo Atualizado em 3 jun 2024, 16h59 - Publicado em 6 abr 2024, 08h00
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  • Depois de toda a vida adulta usando o sobrenome Buarque de Hollanda, de seu marido morto há mais de duas décadas, o que a fez justamente agora mudar para Teixeira? Foi uma espécie de reencontro com minha mãe, que morreu há tempos, e tinha esse sobrenome na certidão. Também já não me identificava mais com Buarque de Hollanda. As pessoas me viam e perguntavam: “Você é o que mesmo do Chico?”. Ele era sobrinho-neto do meu marido. Foi, então, uma dupla libertação, um ato de empoderamento que fez com que eu me sentisse mais próxima de mim mesma.

    Por que tatuar o novo sobrenome nas costas? Sempre quis ter tatuagens, mas só a partir dos 79 anos me permiti fazer várias, em torno de acontecimentos importantes, que quero eternizar — desenhos de netos, por exemplo, e agora o meu nome. É como um diário que carrego. Algumas pessoas acham que sou velha para isso. Eu, não. Nunca é tarde para nada. Vivo a nova velhice, cheia de vida.

    Seu recém-publicado Rebeldes e Marginais: Cultura nos Anos de Chumbo sai em defesa da “cultura rebelde”. O mundo anda mais careta? Ele está certamente mais plural, com uma diversidade de vozes na sociedade, mas não vejo aquela rebeldia dos anos da ditadura, sobre os quais escrevo. O que existe é mais uma revolta de diferentes grupos para conquistar seu espaço. A união da década de 1960, que girava em torno de uma única causa, cedeu lugar a um leque cada vez maior de lutas identitárias.

    E isso, em algum grau, representa um avanço? Por um lado, sim, já que mais gente se faz ouvida. Só que é preciso ter cuidado para que as bandeiras agitadas pelos ativistas de hoje não semeiem ódio e excluam o bom debate.

    Já a criticaram por mergulhar no universo de mulheres negras sendo branca e “incapaz de sentir como elas”. Faz sentido? É verdade que não sinto as mesmas dores que elas, o que não me impede de ter uma visão ampla sobre a cultura negra. Provocar uma discussão com a mente aberta é, inclusive, uma forma de firmar uma posição realmente antirracista. O movimento não deve se radicalizar, sob o risco de frear o diálogo.

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    Tem planos de chacoalhar os tradicionais pilares da secular ABL? A instituição está passando por uma necessária modernização, com perfis de imortais mais variados e uma conexão com personalidades e turmas diferentes. Meu sonho é atrair para a ABL talentos das letras de áreas normalmente invisíveis, como a periferia. Sei que ainda estamos longe, mas este é o objetivo — derrubar mais esta barreira.

    Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887

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