Entre uma xícara de café preto forte — o segredo é coar duas vezes, ele explica — e um cigarro, Geovani Martins fala de sua passagem por uma escola pública no bairro da Gávea. “Achava tudo muito tedioso”, diz. Quando chegou à 8ª série do ensino fundamental, ele já havia repetido o ano duas vezes, e estava certo de que repetiria de novo. Na casa onde Geovani morava, na favela do Vidigal, Neide, sua mãe, o acordava cedo, mas ele muitas vezes preferia ficar dormindo a ir para as aulas — até que, em um “papo reto”, comunicou à mãe a desistência definitiva dos estudos.
Hoje, aos 26 anos, ele está se firmando no difícil ofício de escritor. Já coleciona feitos raros para um iniciante. A coletânea de contos O Sol na Cabeça (Companhia das Letras), seu livro de estreia, que mal começa a chegar às livrarias brasileiras, já teve seus direitos vendidos a nove países. Editoras do prestígio da inglesa Faber & Faber e da francesa Gallimard interessaram-se pela crônica vibrante e vigorosa que os treze contos de Martins fazem da infância e da juventude nas favelas cariocas. “Eu esperava que o livro tivesse uma boa repercussão”, diz o autor. “Mas não que fosse fazer sucesso antes de sair.” A VEJA, ele fala sobre o processo de criação da coletânea, batida na máquina de escrever, a truculência policial na abordagem de moradores de favelas e seu próximo projeto.
https://www.youtube.com/watch?v=E4fS7ZRrG1M
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