E.L. James: Agora sem chicote
Em 'Mister', seu primeiro livro fora do universo de 'Cinquenta Tons de Cinza', a escritora atenua cenas de sexo para explorar drama de uma imigrante ilegal
O primeiro livro da trilogia Cinquenta Tons está perto de completar dez anos. Como sua vida mudou desde então? Foram muitas mudanças. Sinto que estou mais livre. Trabalho por prazer, e não por obrigação. E tenho condições de cuidar da minha mãe, que sofre de Alzheimer, além de poder apoiar causas que me interessam.
Seu novo livro fala sobre imigrantes ilegais e tráfico humano. São causas do seu interesse? Sim, durante minha pesquisa para a trama fiquei horrorizada com o que li sobre o assunto, as abominações pelas quais essas pessoas passam. São temas que merecem mais atenção. E sou filha de imigrantes: minha mãe é chilena.
Os britânicos precisam melhorar o tratamento aos imigrantes? Sim. Só recentemente a imigração virou uma controvérsia no Reino Unido. Quando leio o noticiário, fico triste com as opiniões negativas de algumas pessoas sobre a imigração. A maioria desses imigrantes trabalha duro para contribuir com os países que os recebem. Sem falar que eles adicionam muito às culturas locais.
Nas redes sociais, aliás, a senhora já se disse contrária ao Brexit. Acho que o Reino Unido ficará enfraquecido sem a União Europeia. Sou absolutamente contra o Brexit. Eu me sinto britânica e europeia, não vejo contradição em ser as duas coisas. Creio que somos mais fortes juntos. O direito dos trabalhadores, das mulheres, questões sobre agricultura e meio ambiente — tudo isso está em leis já bem estabelecidas na Europa. Deixar a UE pedirá a reavaliação desses direitos, o que pode ser prejudicial ao povo.
A senhora perdeu fãs nas redes sociais desde que começou a falar mais de política? Sim. O ódio é o novo ópio das massas. Algumas pessoas estão nervosas porque a diferença entre os pobres e os ricos tem diminuído, e essas mesmas pessoas descontam sua raiva em celebridades nas redes sociais. Para mim, as redes são uma ótima ferramenta, mas também uma arma terrível.
Em Mister, um homem poderoso se rende a uma jovem ingênua, algo que também acontece na sua trilogia anterior. Por que essa escolha? Gosto de ver homens poderosos ser desarmados por jovens mulheres.
A senhora se considera feminista? Com toda a certeza. Feministas simplesmente querem respeito e direitos iguais aos dos homens. Por que querer menos? Ainda criancinha, percebi que eu era feminista. Minha mãe é uma mulher muito forte e impetuosa. Ela administrava toda a nossa casa e ainda trabalhava o dia inteiro fora — é meu melhor exemplo de feminismo em ação. Realizar meu sonho de ser uma escritora e apresentar estes livros ao mundo é a coisa mais feminista que já fiz. Escrevo para mulheres. Mulheres sentem desejos, e estes livros são sobre isso.
Publicado em VEJA de 12 de junho de 2019, edição nº 2638
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