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‘É difícil fugir de papéis estereotipados’, diz indígena indicada ao Oscar

Atriz Yalitza Aparício, que ganhou projeção com 'Roma', fala a VEJA sobre como sua vida mudou após indicação ao prêmio e o preconceito sofrido no México

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jan 2021, 18h04 - Publicado em 26 jan 2021, 18h01

A vida da atriz mexicana Yalitza Aparicio, de origem indígena, mudou completamente em 2019 quando foi indicada ao Oscar por seu trabalho no filme Roma, do diretor Alfonso Cuáron. Ao mesmo tempo em que gozava do estrelato mundial, Yalitza sofria preconceito dos próprios mexicanos, que não achavam justo ela ter sido indicada ao prêmio por não ter tido nenhuma experiência artística anterior. De origem humilde, de Tlaxiaco, uma cidadezinha no interior do México, Yalitza trabalhava como professora quando fez o teste para interpretar a personagem Cleo, uma babá que cuida de uma família de classe média na Cidade do México dos anos 1970. Após o sucesso do filme, ela foi nomeada como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time e passou a defender os povos indígenas. 

O mais recente movimento da atriz é uma participação na música América Vibra, da banda brasileira Natiruts, lançada na quarta-feira, 20, dia da posse do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Na canção, que também tem participação de Ziggy Marley, filho de Bob Marley, ela aparece declamando um poema: “No queremos hambre, nosotros somos vida. No queremos armas, nosotros somos paz. No queremos odio, nosotros somos amor” (Não queremos fome, nós somos vida. Não queremos arma, nós somos paz. Não queremo ódio, nós somos o amor, em tradução direta). O clipe mostra imagens da natureza tomando conta de Washington, DC, e também de Brasília, além de imaginar como seria o mundo sem os muros que separam o México dos Estados Unidos. Yalitza conversou com VEJA por videoconferência e, de maneira bastante sincera, disse que, embora tenha sido indicada ao Oscar, as atrações audiovisuais mexicanas estão longe de incluírem os indígenas em papeis de destaque.

O clipe da música América Vibra prega união e mostra o muro na fronteira do México com os Estados Unidos sendo desfeito. Está esperançosa com o novo presidente Joe Biden? O lançamento da música ocorreu em uma data perfeita por que estamos vendo o começo de algo. Não sabemos o que vai acontecer. Não sabemos se terão mudanças boas ou não. Mas estamos certos que será um novo começo.

Como é a sua relação com o Brasil e a música brasileira? Sempre tive vontade de conhecer o Brasil, mas nunca tive a oportunidade. De repente veio o convite do Natiruts. Eu já havia ouvido a música deles, agora nos conhecemos, mesmo que digitalmente. Minha participação foi incrível porque eu não sei cantar e não tenho noção de como poderia participar. Mas a equipe foi superflexível porque eu recito um poema. O que importa é a mensagem que está sendo transmitida, que é algo muito comovente para mim.

O que mudou na sua vida desde 2019, quando foi indicada ao Oscar? Mudaram muitas coisas. Me dei a oportunidade de conhecer novas facetas de mim. Ao mesmo tempo, estou me dando esta oportunidade de lutar pelo meu povo e pelas pessoas que nunca foram ouvidas. Acho que isso foi o que de mais maravilhoso essa travessia me trouxe: poder dar voz e visibilidade a todas as pessoas que sempre estiveram isoladas.

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Você espera que após a sua indicação ao Oscar, os povos indígenas do México possam ser mais representados nos filmes? Eu espero que sim. Tomara que mude. Eu vi que saíram muitos filmes que dão mais espaço para as pessoas indígenas e que, ao mesmo tempo, já não são tratadas da mesma maneira como antes. Já se vê uma mudança, se vê essa abertura e também com as diferentes línguas que existem aqui no México. Que bom que está vindo esta mudança, ainda que a passos lentos, mas está avançando.

As novelas mexicanas costumam exibir atores brancos com feições europeias. Você sente falta de ver mexicanos com feições indígenas na TV? Sim, existe um padrão europeu nas novelas mexicanas, que não representam o povo que existe no país. O México é muito diverso e encontramos feições variadas. Creio que a TV e o cinema deveriam dar espaço para todos os rostos que existem no país e não só em funções braçais e trabalhos tidos como exclusivos de indígenas, por exemplo. Há muitas pessoas de variados tipos que se sobressaem em diferentes áreas no México e isso deveria ser mostrado.

Yalitza, Alexadre do Natiruts e Ziggy Marley, em arte do Kobra
Yalitza, Alexadre do Natiruts e Ziggy Marley, em arte do Kobra – (Kobra/Divulgação)
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Ainda te machuca as críticas que os mexicanos fizeram contra você por ser uma atriz novata e indicada ao Oscar? Teve um debate grande, algumas pessoas refletiram se era justo ou não. Hoje em dia, ainda existem muitas discriminações. Esse tipo de crítica contra pessoas de diferentes cores ainda continua. Tem sido um trabalho pesado e duro, tomara que cheguemos a um ponto onde haja um equilíbrio e um respeito.

E daqui para frente, quais são seus planos no cinema? Pretendo continuar no meio cinematográfico. Aprendi que é difícil fugir de papéis estereotipados que se têm no cinema para as pessoas com a minha aparência. Isso também implica nas minhas decisões e no trabalho que eu vá realizar no futuro. Mas também depende dos diretores e, sobretudo, de roteiristas. Que tipo de histórias eles escrevem e como as desenvolvem? 

Depois de Roma, você passou a se dedicar também ao ativismo político em prol das comunidades indígenas do México. Quais os avanços que já notou na área? Durante este tempo como embaixadora dos povos indígenas, eu senti que consegui realizar poucas coisas. Mas, como eu disse: a luta não se dá somente neste dois anos com este título, ela vai continuar. Realizamos ações em apoio a crianças que são de origem indígena e que ainda mantêm sua língua, com o objetivo de motivar as populações a não esquecer estes idiomas, que é algo que eu sofri. Ao mesmo tempo, também temos que nos conscientizar sobre o valor da nossa cultura. Temos que valorizar a sabedoria que possuímos. É um pouco do que eu tenho tentado fazer durante este tempo.

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