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“Durante meses sofri calada”, diz atriz vítima de crime cibernético

Pillar Costa, 28 anos, ex-'Malhação', teve imagens suas adulteradas e postadas em um site de pornografia

Por Pillar Costa
Atualizado em 3 jul 2020, 19h23 - Publicado em 3 jul 2020, 06h00

“De uma hora para outra, senti como se a minha vida tivesse acabado. Só conseguia chorar, em uma mistura de desespero, vergonha, raiva e tristeza. Tudo começou em novembro passado, quando o meu pai, um senhor de 71 anos que mora no interior de Minas Gerais, me ligou nervosíssimo dizendo que não tinha ‘criado a filha para ser prostituta’. Do outro lado da linha, eu tentava acalmá-lo, sem entender nada. Ele gritou que tinha sido parado na rua por um conhecido que havia visto ‘a Pillar se oferecendo’ em um dos maiores sites pornográficos do país. Claro que não era verdade. Mudei para o Rio de Janeiro aos 15 anos, atrás do sonho de ser atriz. Criei um curso de teatro para crianças e adolescentes, participei de Malhação, na Rede Globo, e estava gravando uma novela na Record.

Desesperada, entrei no site e vi que tinha sido vítima de um crime cibernético. Alguém mal-intencionado pegou as imagens de um esquete que eu havia feito para o Ixi, canal humorístico do YouTube, interpretando uma jovem que ia fazer teste para um papel e participava de um concurso de funk. A pessoa editou em câmara lenta e deu ênfase no vídeo para a região do shortinho e do top que eu usava. Na chamada, puseram meu nome — ‘Pillar Costa: a dançarina mais gostosa do site’. Consegui denunciar o uso indevido da imagem e o vídeo foi retirado em 24 horas. Com a prova fora do ar, não fui prestar queixa na delegacia e achei que tinha resolvido o problema, mas o estrago estava feito. Durante meses sofri calada, com medo constante. E se as imagens tivessem sido copiadas? E se alguém acreditasse que eu estava mesmo me prostituindo? Nenhum colega de trabalho veio falar direto comigo, até porque todo mundo esconde que vê site pornográfico. Meu pai, do tipo que só sabe usar o celular para fazer ligação, demorou muito tempo para acreditar que aquilo não era verdade.

Quem faz um negócio desses não tem dimensão do mal que pode causar. Fiquei deprimida e precisei de ajuda psicológica. A gente se sente culpada, mesmo sem razão para isso. Ao pesquisar casos de outras mulheres que tiveram suas imagens expostas indevidamente na internet, vi que algumas delas chegaram a cogitar tirar a própria vida. Eu também pensei nisso. Foi aí que tomei coragem de me expor e decidi transformar a minha dor em uma missão. Há um mês, fiz um vídeo contando toda a minha história e postei nas redes sociais. Ao mesmo tempo criei um e-mail (bracosqueacolhem@gmail.com) e uma conta no Instagram para receber denúncias de pessoas que tiveram imagens vazadas na web, sofreram abuso sexual, são vítimas de assédio psicológico ou têm um relacionamento abusivo, entre outros ataques.

É impressionante como as pessoas se sentem desamparadas nessas situações. Logo nos primeiros dias recebi inúmeros relatos, como o de uma jovem que tinha sido espancada por um rapaz em uma festa só porque se recusou a beijá-lo, e a mãe, com medo, não queria que ela fosse à delegacia denunciá-lo. Teve também o caso de uma moça que era vítima de insultos do companheiro por causa do peso. Outra história que me impressionou foi a de um grupo de mulheres que tinham namorado o mesmo homem e ele ameaçava divulgar fotos íntimas de todas. As leis e as penas para crimes desse tipo, infelizmente, são muito brandas. Dificilmente alguém vai para a cadeia, no máximo é obrigado a fazer trabalhos voluntários. Para dar visibilidade a histórias como essas, decidi fazer uma série de minidocumentários para o YouTube, chamada Por um Fio. O primeiro contou com a participação de atores, mas tudo em cima de fatos verídicos. Quero dar voz às mulheres abusadas e ajudá-las. Tudo para que não se sintam sozinhas, como aconteceu comigo.”

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Depoimento dado a Sofia Cerqueira

Publicado em VEJA de 8 de julho de 2020, edição nº 2694

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