Vestir um pijama de seda ou cetim, apostar em estampas diferenciadas ou investir em peças de grife para o repouso noturno está nos sonhos de 2022. Há um modo de medir o fenômeno: na plataforma digital Pinterest, a procura por imagens de peças para dormir entre seus 400 milhões de usuários ao redor do mundo teve um crescimento exponencial. As camisolas e conjuntos de cetim e seda femininos, por exemplo, geraram oito vezes mais buscas, enquanto dobraram as pesquisas das versões masculinas.
Os pijamas alcançaram o status de roupa nobre quando passaram a ser o figurino predileto na pandemia — alternados com os moletons, é claro. Nos últimos dois anos ganharam espaço tão nobre que muita gente começou a usar a vestimenta para ficar em casa, sem aquele ranço de virar o dia e a noite de pijama. Ao contrário, tornaram-se opção de bem-estar e elegância. “É uma mistura perfeita”, diz o estilista Dudu Bertholini. “Hoje, o chique é confortável e o confortável é chique.”
O resultado dessa transformação de conceito está sendo visto agora nas apresentações de grifes como Dior, que na divulgação de sua mais recente coleção, a Chez Moi, mostrou modelos deslumbrantes, e Ermenegildo Zegna. A marca italiana criou opções para homens cheias de bossa. Se olhadas rapidamente, podem até ser confundidas com uma roupa despretensiosamente elegante para sair em uma tarde luminosa de verão.
E por que não? É o que muitas fashionistas como Victoria Beckham e a atriz Sarah Jessica Parker costumam fazer por aí quando desfilam seus belos pijamas nas ruas. Cometem uma transgressão — delicadamente planejada —, subvertendo a ordem do que se convencionou chamar de roupa íntima. Estão afinadíssimas com a essência do comportamento atual. “O que a moda contemporânea faz de mais forte é bagunçar as regras”, diz o estilista Bertholini. Mesmo assim, pijama é o dress code para o repouso noturno. Ainda mais nestes tempos em que a casa virou o lugar principal para tudo e todos, dormir também tornou-se um luxo. Não à toa, o mercado global de roupa para se deitar, estimado em 10 bilhões de dólares em 2021, deve dobrar nos próximos cinco anos. Eis aí um reflexo inesperado da pandemia.
Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775