Disney reforça aposta em diversidade com ‘diretora de inclusão’ muçulmana
Mahim Ibrahim, que lidera o projeto de curtas-metragens 'Launchpad', promete trazer oportunidade e acesso para minorias contarem suas próprias histórias

O aumento da representatividade de minorias na indústria do entretenimento é um reflexo cristalino dos dias atuais. Pessoas de diferentes etnias e culturas buscam, cada vez mais, protagonismo no cinema e nas telas do streaming, em roteiros que vão além de meras histórias estereotipadas. Nessa caminhada, a muçulmana Mahim Ibrahim, atual Diretora de Diversidade e Inclusão da Disney — um dos maiores e mais influentes estúdios do mundo — vem com o intuito de mostrar que a mudança de postura precisa vir tanto na frente quanto atrás das câmeras.
Ao comandar um novo projeto de curtas-metragens chamado Launchpad, disponível no Disney+, o principal objetivo de Mahim era simples: dar acesso e oportunidade para artistas que historicamente foram deixados de lado por Hollywood. “Nós conseguimos alavancar essa proposta com o poder intrínseco da Disney de contar histórias”, disse ela em entrevista à VEJA. A coletânea de seis curtas é variada e apresenta uma nova geração de diretores e diretoras que são donos de suas próprias narrativas. Com a temática Descoberta, nesta primeira temporada, as histórias vão desde o cotidiano de meninas muçulmanas nos Estados Unidos, em American Eid, até tramas mais fantasiosas sobre lendas mexicanas, como no curta O Último dos Chupa-Cabras.

Fato é que os estúdios têm buscado abranger em suas produções culturas e etnias que sempre ficaram em segundo plano. Esse crescimento, uma constante na indústria, também é reflexo do sucesso dessas histórias em termos de lucro e bilheteria. Pantera Negra, por exemplo, foi uma aposta da Disney que gerou 1,3 bilhão de dólares para o estúdio, além de três vitórias no Oscar. Os frutos financeiros fazem sentido quando o público busca por títulos mais inclusivos. O Relatório Anual de Diversidade de Hollywood 2021, feito pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e divulgado em abril deste ano, mostrou que a bilheteria e os ganhos de audiência no streaming com elencos que espelhem a diversidade coincidiram com o aumento da contratação de mais pessoas não-brancas para posições importantes no comando dessas produções. Aos poucos, a Disney tem investido em diversidade na tentativa de quebrar as próprias lógicas de um passado não tão distante, em que o padrão era majoritariamente branco.
Se antes era importante trazer aos holofotes histórias como as de Moana e Viva: A Vida é Uma Festa, agora é mais importante ainda que essas produções também sejam inclusivas com diretores e roteiristas de múltiplas etnias. Iniciativas como o Launchpad têm caminhado nesta direção.
Há quase três anos no cargo de Diretora de Diversidade e Inclusão na Disney, Mahim, que é de Bangladesh, já trabalhou com o mesmo segmento em grandes empresas como Google e Youtube, buscando dar visibilidade a pessoas de grupos minoritários. O espírito da representatividade vem desde os tempos de faculdade. Nesse período, a também cineasta dirigiu um curta em que explorou a temática da sedução pela perspectiva de uma mulher muçulmana, e o resultado foi uma história sobre o ato íntimo de uma mulher remover seu hijab pela primeira na noite de núpcias.
“Honestamente, eu acho que a indústria está se esforçando não só para fazer curtas com representatividade, mas também filmes e séries. Isso porque é muito importante que grandes franquias e nossas produções mais amadas sejam tão significativas quando se trata de representatividade quanto nossos curtas-metragens”, explica Mahim. Essa é uma onda que tem se espalhado pelo cinema e pela televisão – e é alvissareiro que pessoas de cores e origens tão diversas possam contar suas próprias histórias na tela.