Poucas atrizes tiveram o dom de encantar diferentes gerações. Crianças e adolescentes reconhecem na britânica Maggie Smith a professora e bruxa Minerva McGonagall da saga Harry Potter. Os jovens adultos a enxergam como a cáustica condessa viúva Violet Crawley, de Downton Abbey, símbolo da arrogância bem-humorada da aristocracia inglesa. “Não seja tão derrotista querida, você é tão classe média”, diz a personagem, em tom de naturalidade de que apenas Maggie seria capaz. Contudo, apesar dos recentes sucessos de personagens já na maturidade, ela deve ser iluminada com zelo na primeira metade da vida, a prova de uma carreira construída com brilho e estudo — e muitas vezes subestimada pela crítica e pelo público. Maggie ganhou o Oscar de melhor atriz com A Primavera de uma Solteirona, filme de 1969 em que interpreta uma mestra nem sempre tão carinhosa com seus alunos, e o de atriz coadjuvante pela comédia romântica California Suite, de 1978, com roteiro afiado de Neil Simon.
Sempre muito identificada com o riso, lamentava ter de vencer o rótulo e provar que sabia fazer chorar. “O aspecto maravilhoso de Maggie é que ela pode saltar da comédia para a tragédia com apenas uma frase”, disse o ator e dramaturgo Alan Bennett. “Para ela, como para mim também, os problemas podem ser igualmente desastrosos e graciosos.” Morreu em 27 de setembro, aos 89 anos, em Londres, de causas não reveladas.
Uma voz inesquecível
O texano Kris Kristofferson, que tentara a carreira de atleta e pugilista, foi oficial do Exército e piloto de helicóptero antes de enveredar pelas artes. E então, em 1971, ganhou um Grammy com o vozeirão poderoso e melódico de Help Me Make It Through the Night, clássico imediato da música country americana. Seguiram-se outros pequenos clássicos, como For the Good Times e Me and Bobby McGee, composta para Janis Joplin. Diz a lenda — e ele nunca a negou — que Kristofferson caiu em prantos ao ouvir a gravação de Joplin no dia seguinte ao da morte da cantora, em lançamento póstumo. Capaz de recitar de cor poemas de William Blake, formado em literatura de língua inglesa pela Universidade de Oxford e sempre inspirado em Bob Dylan, ao misturar o acústico com o elétrico, não demorou para chamar a atenção de diretores e produtores de Hollywood. Em 1976, dividiu a tela com Barbra Streisand em Nasce uma Estrela, blockbuster inesperado e adorável. Morreu em 29 de setembro, aos 88 anos, em Maui, no Havaí. Há anos lidava com a doença de Alzheimer.
Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913