

Em um tempo sem redes sociais, sem a efemeridade vazia alimentada pelos chamados influencers, a fama tinha de ser construída tijolinho por tijolinho, ou filme a filme, como fez a atriz italiana Gina Lollobrigida. A sensualidade que transbordava das telas logo a fez celebrada — era a maggiorata, termo um tantinho pejorativo usado para designar as voluptuosas atrizes italianas dos anos 1950 e 1960, depois da tristeza dos tempos de guerra. De Frank Sinatra a Sean Connery, de Marcello Mastroianni a Humphrey Bogart, todos os grandes atores estiveram ao lado de “Lollo”. Com Bogart, aliás, ela conquistou Hollywood, ao estrelar O Diabo Riu por Último, de 1953, dirigido por John Huston. Na carreira cinematográfica, admitia um arrependimento: ter recusado um papel coadjuvante em A Doce Vida, de Federico Fellini, que deixou escapar porque recebia roteiros sem cessar e se atrapalhou com a papelada acumulada.
Cansada do estrelato, e por que não queria ser lembrada apenas pelo belo corpo, no início dos anos 1970 saiu de frente das câmeras e começou a trabalhar como fotógrafa e escultora. Nos anos 1980 comandou um programa de entrevistas na TV italiana, no qual chegou a conversar com Pelé, o rei do futebol, e Falcão, o rei de Roma. Sempre atenta politicamente, foi pioneira na defesa da diversidade sexual LGBTQIA+. Em 2013, leiloou parte da sua coleção de joias e doou mais de 5 milhões de dólares arrecadados para as pesquisas com células-tronco. Tentou, sem sucesso, uma vaga no Parlamento Europeu e no Senado da Itália. Morreu aos 95 anos, em 16 de janeiro, em Roma, de causas não reveladas pela família.
Vida dramática

Não poderia mesmo ser fácil o cotidiano da única filha de um dos grandes mitos do século XX, Elvis Presley. Lisa Marie Presley tinha 9 anos quando o pai morreu, em 1977, de overdose de medicamentos. Ela tentou carreira musical, com o lançamento de três álbuns, mas não vingou, porque as comparações eram inevitáveis e cruéis. Virou empresária de artistas, mas também nessa seara a realidade lhe foi ingrata, com sucessivos tropeções.
Na vida pessoal, colheu decepções: foi casada quatro vezes, com o músico Danny Keough (de 1988 a 1994), com o astro pop Michael Jackson (1994 a 1996), com ator hollywoodiano Nicolas Cage (2002) e com Michael Lockwood. Ela teve quatro filhos. Um deles, Benjamin Keough, se matou em 2020, aos 27 anos. Lisa sempre disse que, desde a infância, viveu marcada pela morte e pelo luto: “O luto é algo que você terá de carregar com você pelo resto da vida, apesar do que certas pessoas ou nossa cultura querem que acreditemos”. Ela apareceu publicamente pela última vez na entrega do Globo de Ouro em apoio ao ator Austin Butler, um dos premiados da noite, por sua atuação em Elvis, na pele do personagem-título. Lisa Marie morreu em 12 de janeiro, aos 54 anos, de parada cardíaca.
Publicado em VEJA de 25 de janeiro de 2023, edição nº 2825