Em 1970, as 567 páginas da História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi, foram recebidas como um clássico instantâneo dos estudos sobre a cultura do país. De lá para cá, foram 52 reedições. Tratava-se de inédito olhar, de um professor de apenas 34 anos, para o barroco e o modernismo, passando pelo romantismo e o realismo, simultaneamente profundo e didático. Eis o que disse o genial ensaísta Otto Maria Carpeaux a respeito do volume, assim que foi lançado: “Trata-se dessas obras, poucas, que a gente não coloca numa estante qualquer, mas em cima da mesa de trabalho, para consulta permanente”.
O que Bosi fez, enfim, foi a história viva da literatura brasileira. Professor emérito da USP, membro da Academia Brasileira de Letras, era considerado um dos maiores críticos literários do país, sempre atento às vozes populares, à linguagem arcaica e inovadora, à margem do oficial. Em entrevista às Páginas Amarelas de VEJA, em 1975, ele fez questão de destacar a beleza de Guimarães Rosa nessa luta diária “pelo avesso da fala estandardizada”, na eterna briga entre o funcionário de carreira do Itamaraty e o escritor de Grande Sertão: Veredas. Assim, nas belas palavras de Bosi: “Na zona de seu inconsciente criador estava Riobaldo com seus pactos mágicos e na zona do consciente Rosa era o diplomata”. Bosi tinha 84 anos. Morreu em São Paulo, em decorrência de complicações da Covid-19.
As cores da Capela Sistina
Michelangelo levou quatro anos para pintar os afrescos do teto da Capela Sistina e outros seis para acabar o Juízo Final, obras-primas do Vaticano. O restaurador Gianluigi Colalucci precisou de cerca de catorze anos, a partir de 1980, para tirar fuligem e poeira da obra, devolvendo-lhe as supostas cores originais. Saíram as tonalidades escuras e sombrias, despontaram matizes claros e brilhantes. Colalucci tinha 91 anos. Morreu em 28 de março, de causas não reveladas pela família, em Roma.
Publicado em VEJA de 14 de abril de 2021, edição nº 2733