Cortázar, Gabo, Llosa e Fuentes: livro relembra amizade dos grandes escritores latinos
Lançamento da editora Record reúne correspondências trocadas entre os quatro escritores no momento áureo da literatura latina
México, 30 de outubro de 1965. O colombiano Gabriel García Marquez (1927-2014) escreve ao seu amigo mexicano Carlos Fuentes (1928-2012), também escritor, comemorando a finalização de metade de seu novo romance, que já tinha até título: Cem Anos de Solidão. Para Fuentes, além da notícia em primeira mão, ele pede conselhos sobre uma proposta editorial que recebeu da Sudamericana, que queria os direitos sobre todas as suas obras.
Numa mistura entre assuntos editoriais, conselhos fraternais e novidades sobre suas obras literárias, os quatro grandes escritores da literatura latino-americana do século XX — Carlos Fuentes, Júlio Cortázar (1914-1984), Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa (1936-2025) — se corresponderam com frequência entre 1959 e 1975. Documentos que estão agora publicados no livro As Cartas do Boom, lançado esta semana no Brasil pela Editora Record.
O “Boom” pode ser descrito como um momento editorial e criativo fértil na América Latina, quando esses quatro escritores foram peças importantes para consolidar uma espécie de cânone latino, expandindo os títulos mundo afora e criando uma identidade literária própria. Atribui-se à publicação de Cem Anos de Solidão, em 1967, o início desse movimento. Há quem diga ainda que, na verdade, o pontapé inicial foi de Cortázar com O Jogo da Amarelinha, publicado 4 anos antes.
Com ou sem consenso sobre a origem, é fato que isso não importava para os autores. A amizade sólida e profunda era parte primordial do “Boom”, marcada por afinidades literárias e criativas mas sobretudo políticas: os quatro tinham inclinações ao socialismo, que estava no centro da Revolução Cubana nos anos 1950. Enfrentando diferentes ditaduras militares ao mesmo tempo, como na Bolívia e no Brasil, e com atmosferas que redundariam em golpes também na Argentina e no Chile, a política era a pauta inescapável da América Latina. “A mordaça, a ditadura militar, o fim das casas editoriais; este é o prognóstico mais certeiro. Nada disso é fortuito: toda a América Latina se transformará em um enorme quartel, do Rio Grande à Patagônia”, escreveu Fuentes para Gabo em carta de 1968, presente no livro.
Na seção Apêndices, a publicação exibe resenhas literárias escritas dos autores para seus pares. Um destaque é o bate-papo primoroso entre Llosa e Cortázar em Perguntas para Júlio Cortázar. Em um dos trechos, Llosa pergunta para Júlio o que ele diria a um jovem sul-americano que lhe procurasse pedindo conselhos sobre o que fazer para se tornar escritor. Cortázar então responde que quebraria uma cadeira na cabeça do jovem, pois o fato dele buscar conselhos para se tornar um escritor já demonstra sua falta de vocação. Ao que complementa Llosa: se o jovem, ao contrário de solicitar conselho, lhe levasse um manuscrito, Cortázar o leria com a mesma atenção que devotaria a um inédito de Shakespeare. A amizade transcende as cartas pessoais e ocupa páginas de jornais e suplementos com resenhas escritas de um para o outro: em Macondo, Sede do Tempo, Fuentes discorre positivamente sobre Cem Anos de Solidão, obra de Gabo, além de Llosa, que compartilha suas impressões encantadoras sobre O Jogo da Amarelinha, escrito por Cortázar.
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