Ouvir música, mais que um prazer, é um hábito — e ele foi profundamente atingido pela pandemia do coronavírus. Com as pessoas em casa em razão das medidas de distanciamento social, seria natural supor que elas passariam a ouvir mais música. Mas o que aconteceu foi o contrário. A quantidade de streamings no Spotify e na Deezer caiu cerca de 10% entre 16 e 22 março, embora o número de assinantes desses serviços não tenha diminuído. Mais que entreter os fãs, as lives ajudaram a recuperar os ouvintes que os artistas perderam nas plataformas de streaming. Michel Teló teve um consumo 40% maior de suas músicas um dia depois de sua live. Já Sandy viu suas músicas crescer 46% nas plataformas. “O artista não consegue fazer lives todos os dias, mas ele precisa delas de vez em quando para que o fã continue ouvindo sua música. Percebemos que o ouvinte escuta mais seu artista favorito logo depois da live”, afirma Marcos Swarowsky, diretor regional da Deezer no Brasil e América Latina. A dramática mudança na rotina das pessoas, que agora estão quase 100% do tempo em casa, ajuda a entender a queda no hábito de ouvir música por streaming. Ele está atrelado às “ocasiões de consumo”, como ir ao trabalho e exercitar-se na academia — esses itens frugais da rotina simplesmente deixaram de acontecer. Na segunda e na terceira semanas do país sob quarentena, a audiência do streaming voltou a crescer. O conteúdo, no entanto, ficou mais diverso e adequado ao momento. Na Deezer, playlists feitas para ajudar as pessoas a relaxar aumentaram mais de 200%. Música gospel e cantos de louvor também ganharam espaço. No Spotify, playlists infantis, como a MPB para Crianças e a Nana Nenê, conquistaram mais ouvintes.
Publicado em VEJA de 15 de abril de 2020, edição nº 2682