Como Monteiro Lobato, Dr. Seuss cai na malha fina do antirracismo
Seis livros do americano, criador de personagens como Grinch e o Gatola de Cartola, foram retirados de circulação por ilustrações de cunho preconceituoso

Seis livros do autor de contos infantis americano Theodor Seus Geisel (1904 – 1991), o Dr. Seuss, criador de personagens como Lorax, Grinch e Gatola de Cartola, estão no centro de um amplo debate sobre alterações de obras clássicas com conteúdos racistas. A editora Dr. Seuss Enterprises anunciou que vai tirar de circulação seis títulos, por causa de ilustrações que, como diz o anúncio, retratam pessoas de “maneira errônea e dolorosa”. O movimento lembra o caso recente com o brasileiro Monteiro Lobato. Alguns dos livros da série clássica Sítio do Picapau Amarelo apresentam frases de cunho preconceituoso, termos que hoje passam por uma fervorosa discussão sobre se devem ser alterados ou não — polêmica que reflete o caso de Dr Seuss.
Autor de mais de 60 livros, o americano é um dos escritores infantis mais populares dos Estados Unidos, com mais de 100 milhões de exemplares vendidos por lá — traduzido para dezoito línguas, Dr Seuss é um dos autores mais vendidos do mundo, com 650 milhões de cópias comercializadas. A maioria das ilustrações revistas foi feita pelo próprio autor, que também era cartunista. A editora chegou a essa conclusão após uma análise dos livros feita por uma série de especialistas. Em um dos livros, por exemplo, dois homens africanos são retratados com o peito nu e sem sapatos, reforçando um estereótipo preconceituoso a respeito dos povos daquele continente. Em outra obra, os olhos de dois chineses são pintados com duas linhas pretas, enquanto um deles come arroz em uma tigela com dois palitinhos, outro estereótipo considerado pejorativo.

No Brasil, o caso de Monteiro Lobato se revela mais complexo. Há quem defenda que o texto seja mantido na íntegra, em edições com comentários contextualizados para os leitores. Caminho parecido fez a Disney, que adicionou um alerta de conteúdo racista antes de alguns filmes, como Dumbo e Peter Pan. Já Cleo Monteiro Lobato, bisneta do autor, defendeu em artigo publicado em VEJA, uma atualização da obra do bisavô, com mudanças na linguagem e na representação de personagens não-brancos. “A popular Tia Nastácia foi modificada cirurgicamente. Retiramos todas as frases que consideramos de cunho preconceituoso, além de dar-lhe uma injeção de ‘orgulho’ através de um novo visual”, disse ela.