‘Como Eu Era antes de Você’ é filme ruim acima da média
A adaptação do livro de Jojo Moyes, com roteiro assinado por ela, é melhor que 'Crepúsculo'
Louisa Clark (Emilia Clarke, de Game of Thrones) é uma menina sem graça de uma cidadezinha do interior, mas fofa, tão fofa que tem um laptop rosa com adesivos de flor na lataria e se veste com saias, lenços e meias coloridas como se fosse “um duende drag-queen”, segundo o namorado, o egocêntrico Patrick (Matthew Lewis, de Harry Potter). Will Traynor (o deus grego Sam Clafin, de Jogos Vorazes) é um executivo descolado que namora uma loira esbelta e pratica esportes radicais. Lou é de classe média e teve de abandonar o sonho da faculdade de moda – e bem que ela precisaria aprender um pouco sobre o tema – para trabalhar e sustentar a família. Will é rico de berço, trabalha no mercado financeiro em Londres, mas não precisaria, e é do tipo que valoriza mais as belas do que as inteligentes. Lou é generosa, Will é egoísta, o que a sua reação ao acidente que o deixa tetraplégico, logo no início do filme, só faz confirmar. Como é de se esperar de uma história romântica, mesmo com nada em comum, os dois personagens vão se cruzar e se apaixonar, com direito a clichês, uma boa dose de inverossimilhança e aquela xaropada toda de filmes do gênero. Sim, Como Eu Era Antes de Você, adaptação do best-seller da britânica Jojo Moyes escrita pela própria e dirigida por Thea Sharrock, diretora de teatro estreante no cinema, é uma lenga-lenga romântica com os penduricalhos cafonas que esse tipo de história costuma carregar. Mas o longa que estreia nesta quinta-feira, acredite se quiser, é acima da média da categoria.
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A trajetória de Lou encontra a de Will quando ela, desempregada com o fechamento do café onde mimava velhinhas com meiguice extrema, aceita a função de cuidadora de um cadeirante. Sua função, mais especificamente, é a de motivadora, porque Will está deprimido há dois anos com o acidente e também porque a parte física do trabalho fica Nathan (Stephen Peacocke). O contrato é de apenas seis meses e o dinheiro, ótimo, mas no começo ela chega a pensar em desistir, porque Will, amargurado e sarcástico, a trata muito mal. É preciso tempo, perseverança e, óbvio, muita fofura para que Lou amoleça o espírito do inconformado Will, que o convença a sair de casa e a passear com ela. É dispensável dizer que ela não apenas terá sucesso como se verá caída por ele, enquanto o namorado, Patrick (Matthew Lewis), dá sucessivas demonstrações de egoísmo e infantilidade.
Sim, é tudo previsível em Como Eu Era Antes de Você, mas um mérito do filme – e de Jojo Moyes – é não deixar evidente se Lou de fato se apaixona por Will ou pela ideia de salvá-lo, já que a depressão tirou dele a vontade de viver. É possível que ela se deixe envolver com ele apenas para reabilitá-lo, se não física, ao menos emocionalmente. Isso fica no ar, ponto para Jojo e para Thea Sharrock, apesar dos clichês incessantes da produção – a trilha é pontuada por canções mela-cueca como Photograph, faixa de Ed Sheeran que embalou o casal Romero (Alexandre Nero) e Atena (Giovanna Antonelli) em A Regra do Jogo e que é acusada de plágio.
Outro mérito do filme é o humor. Lou é brega, muito brega. Brega de doer. É um desfile de roupas feias e extravagantes pela tela, uma pior que a outra: mesmo pobre, a garota parece ter um guarda-roupa infinito, tanto que nunca repete uma peça. E, mesmo apaixonado, o refinado Will Traynor não perdoa o mau gosto da menina. As piadas com o visual de Lou, na melhor linha Bridget Jones, são bem colocadas.
E há ainda um terceiro mérito, talvez o maior de todos. É o final da história, que vem despertando polêmica — dê um Google se deseja saber — e que é, pode-se dizer em sua defesa, a pitada de sal que mitiga o enjoo de tanto açúcar concentrado em quase duas horas de sessão.
Quem for ao cinema arrastado pelo amigo, ou pela namorada ou namorado, pode chegar à conclusão de que Como Eu Era Antes de Você é um filminho suportável. Para o público que sai de casa movido pelo interesse e pela curiosidade, no entanto, este é um longa ruim. Ruim, mas bonzinho. É um filme ruim acima da média.