Chloé Zhao, diretora de ‘Eternos’: “Eu queria muito esse emprego”
A cineasta chinesa falou a VEJA sobre os bastidores do novo filme da Marvel
Para muitos, foi uma surpresa saber que uma diretora tão identificada com o cinema de arte fosse fã dos super-heróis da Marvel. Como se equilibrar entre o cult e o popular? O cinema é democrático, ele é para todos. A Marvel atingiu uma audiência global impressionante, e que me interessa. Eu cresci lendo mangás e assistindo a animes, além de produções de artes marciais como O Tigre e o Dragão (2000). Meu sonho era ser uma artista de mangá. Mas, enfim, me apaixonei pelo cinema e por fazer filmes de uma forma experimental. Uma coisa não anula a outra. Meu gosto pela fantasia e pela ficção científica não morreu.
Essa inspiração oriental se vê nas cenas de ação. Como foi idealizá-las? As cenas de lutas orientais têm um estilo diferente daquelas dos clássicos de ação ocidentais. Tentei incorporar essa estética ao máximo. Há posturas e lutas inspiradas nos samurais. Essa técnica também está muito ligada ao posicionamento das câmeras. Na maior parte do tempo, elas ficam no chão, com o espectador. Não vão aos lugares a que seria fisicamente impossível para quem assiste, deixando o filme mais imersivo.
Como se deu sua contratação pela Marvel? Havia um interesse mútuo. Apresentei projetos que não vingaram. Mas me mantive no radar. Trabalhei duro para desenvolver essa ideia e ser aceita pelos produtores. Eu queria muito esse emprego.
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Há um fundo místico na trama, que trata os personagens como divindades. Sua experiência pessoal com a religião influenciou o roteiro? Eu não sou religiosa, o que me garante uma maior liberdade para viver. Ironicamente, quem não segue uma religião fica preso em perguntas sem respostas. Para onde vou quando eu morrer? Qual o propósito da minha existência? Eu tenho buscado me aproximar da minha espiritualidade. E creio que encontrei respostas nos meus filmes. Meu espírito está conectado à natureza e à busca por um equilíbrio entre os humanos e o planeta. Pensar assim me mantém sã.
Publicado em VEJA de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762