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Cannes: Júri preferiu filmes com algum elemento de choque

Premiação do 70º Festival de Cannes indica algumas discordâncias no júri, bastante heterogêneo

Por Mariane Morisawa, de Cannes
Atualizado em 28 Maio 2017, 18h25 - Publicado em 28 Maio 2017, 18h10

 

 

Com uma seleção medíocre, sem unanimidades, e um júri heterogêneo, seria quase impossível a premiação do 70º Festival de Cannes agradar totalmente. Certamente, havia filmes mais bem resolvidos do que o sueco The Square, de Ruben Östlund, que quer falar de coisas demais e acaba se perdendo. Mas o júri presidido por Pedro Almodóvar parece ter procurado premiar um longa com algumas ousadias, como a longa cena em que um artista leva sua performance como um macaco ao extremo.

“O filme fala da ditadura do politicamente correto, e como toda ditadura esta é horrível”, disse Almodóvar na coletiva do júri após a cerimônia. The Square tem distribuição garantida no Brasil.

Mas a emoção de Almodóvar ao falar sobre o filme 120 Battements par Minute, de Robin Campillo, que levou o Grande Prêmio do Júri, dá a entender que, talvez, essa era sua escolha do coração. Também é um filme bem distante da perfeição, desequilibrado, com uma primeira parte dedicada à história do grupo de ativismo ACT UP, de questões relacionadas à Aids, na Paris no início dos anos 1990, e a segunda, emocionante, com o casal formado por Sean (Nahuel Pérez Biscayart) e Nathan (Arnaud Valois). Almodóvar, muito ligado aos movimentos pelos direitos LGBTQ, viveu de perto a era em que a Aids era uma epidemia. É possível que o cineasta espanhol tenha sido voto vencido, ou que simplesmente tenha decidido ir com uma opção mais arriscada – e, também, menos humanista. “Foi um júri democrático”, afirmou. “Eu era apenas a nona parte deste júri.” Will Smith concordou, mas brincou: “Às vezes, a democracia é uma droga”.

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Talvez a tal democracia tenha sido a responsável pelo estranho prêmio especial de aniversário de 70 anos para Nicole Kidman, que tinha dois filmes em competição, The Killing of a Sacred Deer, de Yorgos Lanthimos, e O Estranho que Nós Amamos, de Sofia Coppola, enquanto o troféu de atriz foi parar nas mãos de Diane Kruger por Aus Dem Nichts, de Fatih Akin, o que não chegou a ser surpresa. “Fatih me mostrou como eu era forte”, disse a atriz. “Minha personagem é uma vítima, mas nunca desiste”, completou, sobre a mulher que perde marido e filho num atentado a bomba. A premiação das duas atrizes sugere um racha no júri. O prêmio de ator para Joaquin Phoenix (por You Were Never Really Here, de Lynne Ramsay) também não surpreende. Phoenix explicou por que demorou para se levantar e receber o troféu. “Não estou acostumado a ser celebrado”, disse, bancando o modesto. “Mas não sabia também se era para levantar ou não.”

O russo Nelyubov, de Andrey Zvyagintsev, que levou o prêmio do júri, foi o primeiro da competição a ser exibido para jornalistas, e ficou na memória com sua história de um casal em processo de separação que percebe talvez tarde demais que seu filho sumiu. É um filme duro, que faz um paralelo entre a indiferença dos membros dessa família para todo o país.

Com apenas três diretoras entre os 19 concorrentes, mas um presidente do júri definitivamente feminista, eram esperados prêmios para os filmes de Sofia Coppola, Lynne Ramsay e Naomi Kawase. E eles vieram. Além do troféu de atuação masculina, o filme de Ramsay, You Were Never Really Here, dividiu o prêmio de roteiro com o grego Lanthimos. Já Sofia Coppola entra para a história como a segunda mulher a ganhar como melhor diretora – a primeira foi a russa Yulia Solntseva, que levou em 1961 por A Epopeia dos Anos de Fogo. Na coletiva do júri, Jessica Chastain foi além de falar da falta de cineastas do sexo feminino, criticando o conteúdo de filmes dirigidos por homens nesta competição.

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“Fiquei estarrecida com o tratamento das mulheres em muitos desses longas”, disse. “Precisamos de mais mulheres dirigindo para que tenhamos nas telas mais personagens femininas que se pareçam com as mulheres que eu conheço.” Tanto ela quanto a diretora e roteirista francesa Agnès Jaoui mencionaram o teste de Bechdel, que mede a importância das personagens femininas, indagando se elas têm nome próprio e se interagem entre si sem falar sobre um homem em que estão interessadas. “Pensem nos filmes e vejam quais passam no teste”, disse Jaoui. Pelo critério, muitos filmes podem ter sido colocados de lado da disputa, como Krotkaya, de Sergei Loznitsa, L’Amant Double, de François Ozon, Rodin, de Jacques Doillon, e até Geu-hu, de Hong Sangsoo.

No fim das contas, o júri ficou em geral mais tocado pelos filmes que provocam e chocam, à exceção de 120 Battements par Minute.

 

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