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Cannes: Coreano usa naturalismo para falar dos mistérios da vida

Hong Sangsoo, que exibe dois filmes em Cannes, fala do tempo, dos encontros fortuitos e das razões para viver em 'Geu-hu'

Por Mariane Morisawa, de Cannes
22 Maio 2017, 18h50
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  • Não poderia haver antídoto melhor para The Killing of a Sacred Deer, de Yorgos Lanthimos, do que Geu-hu, do sul-coreano Hong Sangsoo, exibido em sessão de imprensa no Festival de Cannes logo depois. Dá até para cravar que os dois filmes são opostos. Enquanto o primeiro abusa do estilo, do sarcasmo, do artificialismo e da perversidade, o segundo respira vida real, visual discreto, naturalismo e humanidade. É uma pena que a sessão de imprensa tenha sido relegada à menor sala do Palais des Festivals, a Bazin, impedindo que muitos jornalistas assistissem.

    Filmado em preto e branco, Geu-hu (em inglês, The Day After, ou “o dia seguinte”) é mais complexo que parece. Bongwan (Kwon Haehyo), crítico literário e dono de uma pequena editora, contrata uma pessoa, Areum (Kim Minhee), para o lugar de Changsook (Kim Saebyuk), com quem teve um caso. Haejoo (Cho Yunhee), mulher do editor, descobre a traição e vai até a editora, confundindo a nova funcionária com a amante.

    É impressionante como Sangsoo filma muito e rápido: ele esteve na competição em Berlim com Bamui Haebyun-eoseo Honja, que deu o Urso de Prata de atuação feminina para Kim Minhee, que também está no novo longa. Em Cannes, além de Geu-hu, ele apresenta, fora de competição, Keul-le-eo-ui Ka-me-la (em inglês, Claire’s Camera, ou “a câmera de Claire”), também estrelado por Minhee e Isabelle Huppert. Geu-hu não é tão forte quanto o longa apresentado em Berlim, mas ainda assim é um dos poucos filmes com um diretor em pleno domínio da técnica nesta competição até agora decepcionante.

    O diretor novamente brinca com o tempo, transitando entre presente, passado e futuro sem marcações explícitas. Minhee, que fez uma personagem feminina e tanto em Bamui Haebyun-eoseo Honja, também tem material para trabalhar aqui. Aerum é um tanto melancólica, mas também muito sincera. É dela a pergunta fundamental do filme: “Por que você vive?”. Taí uma coisa que a humanidade inteira quer saber.

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