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Brasileiro em campanha pelo Oscar: ‘Me sinto numa turnê de rock’

Rodrigo Teixeira se aproxima de cobiçadas estatuetas do cinema com 'Me Chame pelo Seu Nome', enquanto realiza sonho de trabalhar ao lado de Martin Scorsese

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 4 jun 2024, 17h40 - Publicado em 3 dez 2017, 09h34
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  • Tem brasileiro na temporada de premiações: Rodrigo Teixeira, dono da RT Features, é o produtor por trás de filmes como Me Chame pelo Seu Nome, de Luca Guadagnino, Patti Cake$, de Geremy Jasper, e A Ciambra, de Jonas Carpignano, que é coproduzido por Martin Scorsese. Os três longas estão indicados a um total de oito Independent Spirit, a principal premiação do cinema independente americano, cuja cerimônia acontece em Santa Monica, no sábado, 3 de março, um dia antes do Oscar. É a segunda vez que a RT Features participa do Independent Spirit. No início de 2017, A Bruxa, produzido pela companhia, levou dois troféus (longa de estreia e roteiro de estreia), numa festa dominada por Moonlight – Sob a Luz do Luar, que no dia seguinte levaria o Oscar de melhor filme.

    “Eu adoro esse prêmio, a gente já tinha sido indicado antes, mas desta vez foi um batalhão, com três filmes que a gente trabalhou com tanto carinho e tanto suor”, disse Rodrigo Teixeira em entrevista a VEJA. “É um dos momentos profissionais mais felizes da minha vida.” Me Chame pelo Seu Nome, que dificilmente fica de fora da disputa pelo Oscar, tem seis indicações (filme, direção, montagem, fotografia, ator para Timothée Chalamet e ator coadjuvante para Armie Hammer), Patti Cake$ concorre como longa de estreia e A Ciambra, ao troféu de direção. O filme de Jonas Carpignano também é o candidato da Itália a uma vaga entre os candidatos a melhor produção em língua estrangeira no Oscar.

    Para aumentar a confiança do brasileiro, a RT Features levou o prêmio de melhor filme no Gotham Independent Film Award no dia 27 de novembro, em Nova York, com Me Chame pelo Seu Nome. Outra cerimônia que tem se consagrado como termômetro do Oscar. Agora, Teixeira passa boa parte do seu tempo nos Estados Unidos, onde faz campanha por mais estatuetas. Confira abaixo a conversa:

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    Em que medida você participa das campanhas na temporada de premiações? Eu estou em campanha com eles. Estou em Nova York e Los Angeles em campanha. Me sinto numa turnê de rock.

    Em que consiste essa campanha? Exibir o filme em várias pré-estreias, encontrar pessoas, fazer reuniões, atender jornalistas. É uma campanha de Oscar. É muita coisa, é cansativo, mas bem legal. E é só o começo, porque se houver sucesso em termos de indicações, tem muito trabalho até março. Muito. E é meio ficar fora. Passei mais tempo nos Estados Unidos neste semestre do que no Brasil.

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    Por que escolheu esses projetos especificamente para produzir? Sempre invisto em coisas que falam a meu coração, à minha cabeça e que eu tenho vontade de assistir no cinema. Assim que li o roteiro, automaticamente fiquei com vontade de tentar realizá-los no cinema.

    Mas o que cada um deles tinha de especial? Patti Cake$ para mim era a história de um vira-lata que caminhava para o início de uma possível carreira de sucesso. Era uma história que sempre tive vontade de fazer e me chamou muito a atenção a forma como ele estava sendo concebido. Participei desde o começo, desde o desenvolvimento. Me Chame pelo Seu Nome é uma história de amor, e eu sempre quis fazer um filme lindo de história de amor. E acho que encontrei. É um dos filmes mais bonitos que eu já vi e eu fico muito feliz de ter sido produtor dele. A Ciambra é um trabalho diferenciado. Jonas Carpignano é um dos diretores com maior personalidade que eu já conheci. Quando ele me vendeu a ideia, topei na hora. Graças a Deus a gente conseguiu convencer o (Martin) Scorsese a ser parte disso, e a gente está aí colhendo os frutos.

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    Como foi trabalhar com o Scorsese? Nunca imaginei na minha infância que ia trabalhar com um cara que mexeu com minha cabeça como ele. É uma loucura.

    Me Chame pelo Seu Nome deve ser indicado a muitos Oscars. O filme é uma história de amor entre dois rapazes, um de 17 e um de 24. Houve um princípio de polêmica por causa da questão da diferença de idade, por serem dois meninos. Acha que isso pode afetar? São jovens que se apaixonam. Não vejo nenhum tipo de problema em relação a isso. São dois jovens com uma proximidade de idade muito grande, isso acontece. Não é nada agressivo, nada complicado. Infelizmente o momento atual desse mundo é mais conservador, então às vezes se interpreta isso da forma errada. Mas eu não vejo nada disso, não. Não existe nenhum “buzz” negativo. O filme não é por aí. Acho um pouco vazia essa polêmica.

    Quando você começou, imaginava chegar onde está? Desde garoto, tinha ambição de trabalhar com cinema nos Estados Unidos. Ambição, sempre tive. Mas isso é uma construção, e estou construindo ainda. A ideia é construir cada vez mais, é fazer com que esse tipo de coisa não mude o comportamento da companhia, mude o nosso comportamento, que a gente tente manter o pé no chão. E continuar construindo. Eu faço isso por amor.

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    Como está a produção de cinema no Brasil? O Brasil é um polo de audiovisual muito importante, que está no meio de um processo de crescimento. Existem recursos disponíveis hoje para que se produza no Brasil. Acho que o país está começando a pensar como indústria audiovisual fora da televisão. Há o amadurecimento artístico de muitos talentos. Estou muito otimista com o momento do audiovisual brasileiro artisticamente. Em termos de indústria, acho que a gente ainda tem muito a crescer.

    Como foi seu começo nos Estados Unidos? Quando você vem para os Estados Unidos, a tendência é se deslumbrar muito rápido, por ter acesso a talentos que admira. Então o tombo chega rápido. Mas você volta à superfície, começa a remar e a entender como esse negócio funciona. E começa a jogar como eles. É como se tivesse feito uma pós-graduação aqui nesses últimos anos. Em termos de negócio, penso como americano. Artisticamente, eu sou brasileiro, moro no Brasil e consigo ter um senso crítico, na minha opinião, melhor do que vem sendo feito fora do Brasil. Isso me ajuda na hora de escolher os projetos.

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    Pensar com a cabeça de americano significa o quê? Ter uma lógica de mercado diferente. E uma outra coisa que eu faço é que eu estudo cinema todo dia. Produzir cinema não é só achar que você vai levantar o dinheiro e fazer o filme. Você tem de ler sobre cinema, ver muito filme, estudar como os filmes eram feitos no passado, encontrar possíveis referências para que você chegue rápido nas futuras tendências – acho que esse é o trabalho do produtor. Aproximar-se dos jovens, entender o que o jovem está buscando. Estou muito feliz porque esses três filmes falam muito com os jovens. Eu sou um cara de 40 anos, estou entrando na segunda parte da minha vida. Estou conseguindo me comunicar com o público jovem. É algo que me interessa profundamente.

    Ser brasileiro influencia de que forma na hora de escolher seus projetos? Acho que influencia de diversas formas. Coisas que não me interessam enquanto espectador são talvez mais comuns para o americano. Estou procurando justamente aquilo que é diferente. E isso pode ter o lado bom e o lado ruim, porque o que você busca como diferente não é necessariamente o que o público e os críticos querem ver. Mas é um risco que eu acabo correndo e tenho sido bem-sucedido nesse quesito.

    As plataformas digitais, como a Netflix, estão ganhando força. Como isso afeta o cinema que você faz? É um comprador novo. Acho que é preciso gerenciar a expectativa. Quando você vai vender para a Netflix, tem de saber que vai ser uma experiência diferente, não é a experiência de entrar na tela grande, exibir seu filme lá e ter uma reação com o público. É um outro tipo de tela, outro tipo de momento, o público é o mesmo, mas não está dentro de uma sala de cinema, e sim em casa. Cabe ao mercado, aos estúdios, à Netflix encontrar uma forma de coexistir. Se eles conseguirem chegar nesse lugar, eles vão coexistir de uma forma coerente e fazer com que esse mercado aconteça.

    Os estúdios americanos não têm investido muito em coisas diferentes. Acha que essa busca pelo blockbuster acabou revitalizando novamente o cinema independente? O cinema independente hoje está num ótimo momento. Há muitos compradores. Mas dá para jogar nos dois ambientes. Acabei de fazer um filme de estúdio e adorei ter tido essa oportunidade. Foi incrível. Também gosto de ver filme de estúdio. Sou apaixonado por filme, independentemente de onde está vindo.

    O filme de estúdio que você fez é o Ad Astra, de James Gray. Pode falar alguma coisa? Não muito. Está sendo preparado para o fim do ano que vem, dirigido pelo James Gray, com Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e Ruth Negga. Acho que é um filme incrível e espero que ano que vem a gente tenha algo muito especial sendo lançado no cinema.

     

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