Um boicote vem se desenhando desde que os documentários Deixando Neverland, que traz denúncias de abuso sexual contra Michael Jackson, e Sobreviver a R. Kelly, com acusadoras de R. Kelly, foram exibidos nos Estados Unidos. O autor de Thriller teve suas músicas retiradas da programação de rádios em países como Austrália e Canadá, além de ter itens pessoais removidos de exibição em um museu infantil americano. Já R. Kelly viu colegas como Lady Gaga irem a público pedir desculpa por terem gravado com ele. Mas o protesto contra os alegados abusos sexuais não prejudicou os cantores em todas as áreas: por causa da repercussão, seus nomes voltaram ao noticiário – com isso, as vendas de discos de Michael Jackson cresceram imediatamente após a exibição do filme, e R. Kelly ganhou seguidores no Instagram.
Segundo a revista americana Billboard, as vendas de álbuns e canções avulsas de Jackson subiram 10% entre os dias 3 e 5 de março, após a exibição do documentário na televisão no país americano, em relação ao mesmo período da semana anterior (domingo a terça-feira). Já no streaming, as execuções de músicas e clipes do cantor cresceram 6%, considerando o mesmo período.
No Instagram, o músico passou de 2,92 milhões de seguidores, em 3 de março, para 2,98 seguidores, em 18 de março – um crescimento pequeno, de 2%, que pode não ter como causa única a exibição do filme, porque acompanha a curva de crescimento de seguidores da página do cantor. O gráfico abaixo, produzido pela ferramenta Crowdtangle, mostra os últimos doze meses do perfil:
No caso de R. Kelly, porém, fica nítido que a exibição do documentário que traz depoimentos de mulheres que denunciam terem sido abusadas pelo cantor teve impacto em seu número de seguidores. Nos EUA, o filme foi ao ar na TV entre 3 e 5 de janeiro. Em dezembro, o cantor tinha 1,14 milhão de seguidores – já em janeiro, foi a 1,31 milhão, um aumento de mais de 170.000, muito acima da curva de crescimento usual da página:
É impossível saber com certeza quais motivos levaram R. Kelly a ganhar seguidores, mas é provável que muitas pessoas tenham decidido começar a segui-lo na rede porque estavam interessadas em acompanhar os desdobramentos do caso. Afinal, ele poderia se pronunciar a qualquer momento sobre as denúncias. O crescimento, portanto, não necessariamente indica que o cantor ganhou apoiadores que acreditam em sua inocência e o defendem – talvez, sua página tenha agregado apenas curiosos, mesmo.
Jackson, por sua vez, morreu em 2009, e todas as atualizações em suas redes sociais são produzidas por familiares, herdeiros e administradores de seu espólio. Talvez por isso, seu número de seguidores não tenha subido tanto. Neste caso, a mera curiosidade dos espectadores não explica o aumento de execuções de suas músicas e de venda de seus discos. Isso parece um recado dos fãs: acreditando-se ou não em sua inocência, ele continua sendo o ídolo de muita gente, disposta a gastar dinheiro com ele e a ouvir seu trabalho.