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‘Black Mirror’ com Miley Cyrus: apenas mais um filme teen clichê

Episódio da quinta temporada da série usa inteligência artificial e uma popstar para tratar dos mais antigos expedientes da ficção para jovens

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 jun 2019, 17h01
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  • Black Mirror já foi mais ousada. Sua quinta temporada, que chegou nesta quarta-feira à Netflix, traz três episódios de produção impecável, mas que pouco competem com o histórico do programa – conhecido por deixar o espectador intrigado e até assustado com as camadas mais íntimas dos seres humanos e sua vazão através de aparatos tecnológicos. Entre os novos títulos está o esperado capítulo com a cantora e atriz Miley Cyrus, batizado de Rachel, Jack e Ashley Too. Apesar de bem filmado e interpretado (Miley está bem, obrigada), o roteiro é dos mais simplórios, digno da programação da Disney.

    Rachel (vivida pela adorável Angourie Rice) é uma garota solitária, que só esboça sorrisos ao ver na tela do celular ou da TV sua cantora favorita, Ashley O (Miley). Jack (Madison Davenport), sua irmã mais velha, também se esconde da vida real na típica rebeldia adolescente, com o uso excessivo do fone de ouvido e caretas com maquiagem roqueira. Ambas perderam a mãe e vivem com o pai, que está mais interessado em ampliar seu negócio de controle de pragas do que em cuidar das meninas. Rachel pede de aniversário a boneca Ashley Too, um elaborado brinquedo tecnológico de inteligência artificial que traz a voz da estrela pop e frases de efeito como: “você pode tudo, se acreditar em si mesmo”. Do outro lado, Ashley também é uma jovem isolada, explorada pela tia e empresária Catherine (Susan Pourfar).

    A solidão como ponto de encontro, um caminho interessante a ser seguido pelo roteiro, é descartada para dar espaço à mais comum das tramas adolescentes. As irmãs brigam o tempo todo. Ashley sofre um golpe da tia abusiva e controladora. E a bonequinha, enquanto isso, ganha total liberdade, manifestando a mente e pensamentos da popstar, como uma consciência paralela.

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    Angourie Rice no episódio ‘Rachel, Jack e Ashley Too’ de ‘Black Mirror’ (Netflix/Divulgação)

    Para imaginar o final, só é necessário conhecer a vida de celebridades do tipo. Miley, por exemplo, Britney Spears, Demi Lovato, até a brasileira Anitta, entre tantas outras, já propalaram o discurso “agora, eu cuido da minha carreira”. O drama das irmãs é deixado de lado, como se o luto da perda da mãe e a dificuldade de convivência entre elas não fosse lá um grande problema. E a famosa imprevisibilidade de Black Mirror se esvai, como se a série fosse mais um brinquedo caro adquirido pela Netflix, mas com o qual ela já não lembra mais como brincar.

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